O clima é de extrema tensão na Terra Indígena Parakanã, em Novo Repartimento, a 510 quilômetros de Belém. Os indígenas denunciam ameaças de homens encapuzados e promessas de morte nos próximos dias. O enredo de terror domina a região desde o final de abril do ano passado, após os corpos de três jovens caçadores de Novo Repartimento terem sido encontrados enterrados dentro da reserva.
A partir daí, surgiram acusações – nunca comprovadas pelas investigações policiais que até hoje se prolongam sem resultado – de envolvimento dos indígenas nos assassinatos. E logo começaram as ameaças de retaliação, apesar de os caciques da tribo negarem participação de seu povo nos crimes e terem ajudado em encontrar os desaparecidos, que depois veio a se saber que estavam enterrados em uma área da reserva.
Áudios com ameaça a vida dos indígenas começam a circular nas redes sociais daquela região logo depois de os corpos terem sido encontrados pela Polícia Federal. Um clima de insegurança e ameaças vêm aumentando e preocupando os Awaeté e seus parceiros institucionais, como os professores dos cursos de Magistério Indígena e Agroecologia, do campus de Marabá.
Para o próximo dia 24 , segunda-feira, está prevista uma grande manifestação na região, pois os crimes contra os três jovens – Cosmo Ribeiro de Sousa, 29, José Luís da Silva, Teixeira, 24, e Willian Santos Câmara, 27 – completam 1 ano sem respostas das autoridades policiais do estado. Essa manifestação engloba familiares dos três jovens mortos, comerciantes e empresários de Novo Repartimento.
Durante audiência ontem com autoridades paraenses, a Comissão Arns de Direitos Humanos, que passou uma semana no Pará, apurando casos de violência contra comunidades rurais e agricultores, solicitou providências para evitar que a manifestação da próxima segunda-feira fuja do controle e acabe em confronto de consequências imprevisíveis com os indígenas Parakanã, que há meses estão praticamente confinados em sua reserva diante da intensificação das ameaças.
MPF e a Força Nacional de Segurança
O Ministério Público Federal (MPF) informou ontem que, a pedido do fiscal da lei, a Secretaria Nacional de Segurança Pública se comprometeu a reforçar a segurança de Novo Repartimento após intensificação das intimidações sofridas por indígenas e servidores públicos na região. Essa recomendação foi expedida em março passado.
“A recomendação foi enviada após notícia de que servidores que atendem a comunidade da Terra Indígena Parakanã foram ameaçados por homens encapuzados, prática que se repete contra os próprios indígenas. De acordo com o documento, as intimidações ocorrem desde 2022, quando três não indígenas foram encontrados mortos na região”, diz o MPF em comunicado enviado ao Ver-o-Fato.
Seguindo os termos recomendados pelo MPF, o comando da Força Nacional comunicou que “remanejará 30 integrantes para atuar na região até que o risco de retaliação ao povo Parakanã diminua e o conflito seja debelado. A mobilização tem início nesta sexta-feira (21)”, informa o MPF.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou também ao MPF que somará esforços à Força Nacional no monitoramento da região, notadamente ao longo da BR-230. A Polícia Militar, por sua vez, se comprometeu a atuar a fim de “resguardar a integridade e a segurança da população de Novo Repartimento bem como daqueles que vivem e trabalham na comunidade indígena”.