Após ser denunciada por contratar um grupo paramilitar de fora do estado para torturar e ameaçar trabalhadores rurais ribeirinhos da comunidade Vale do Bucaia, no município do Acará, a empresa multinacional BBF (Brasil BioFuels) agora foi acusada de ameaçar os indígenas da Reserva Tembé, em Tomé-Açu, na Região do Rio Capim, nordeste paraense.
O líder indígena Paratê Tembé compareceu na presença do delegado da Polícia Civil Waldir Freire, da Delegacia de Meio Ambiente, e registrou um boletim de ocorrência, ontem, 25, por ameaça praticada por um grupo paramilitar a serviço da empresa, comandado por um delegado da Polícia Civil paulista aposentado.
Segundo o líder, a multinacional queria usar os índios como “escudo” para impedir uma reintegração de terra, mas como não foi atendida, cortou o pagamento de valores acordados, deixando a comunidade indígena largada à própria sorte, sem condições de subsistência.
Os índios são da Aldeia do Turé Mariquita, na Rodovia PA 140, ramal Vila São João, Distrito Quatro Bocas, em Tomé-Açu e em maio deste ano, a Associação Indígena Tembé estabeleceu um termo de cooperação com a empresa BBF para o pagamento de valores de remediação de parte de ativos socioambientais devidos aos índios.
O acordo estava em vigor, mas agora foi rompido pela empresa, porque os índios se recusaram a impedir a reintegração de posse contra a multinacional.
Pressões na madrugada e corte de recursos
De acordo com o B.O., na madrugada de 02 de setembro deste ano, o líder indígena recebeu em sua casa, na aldeia, uma representante da empresa BBF chamada Vandréia, acompanhada de um homem, que ameaçou interromper os pagamentos aos índios, se eles “não impedissem o cumprimento de reintegração de posse que a outra empresa que disputa com eles a posse das terra queria fazer cumprir”.
Paratê Tembé respondeu que não poderia usar os índios para cometer crime e que muito menos o termo assinado com a empresa tinha sido estabelecido para este fim. Mesmo assim, ele disse que foi à tarde do mesmo dia com um grupo de guerreiros reunir com os representantes da empresa, mas percebeu que a intenção da multinacional era “usar os indígenas como escudo na guerra entre as empresas, manipulando a opinião pública para dar a impressão de que os índios estão do lado da BBF, por ela respeitar os direitos humanos, o que não é verdade”.
Ele narrou ainda no B.O., que ao sair da reunião, para garantia da segurança dele e dos guerreiros, não deu uma palavra final, porque no local haviam homens com aparência de ser pistoleiros e milicianos, fortemente armados, e que olhavam de forma ameaçadora para os índios.
O líder Tembé disse também que no dia 08 de setembro último, às 11h10, quando estava em Quatro Bocas, recebeu uma ligação telefônica do advogado da BBF, Otávio Falchero de Oliveira, “que queira usar os índios contra a outra empresa, para que fizessem bloqueio e manifestação para retomar a posse da área”.
” Vou entrar com 3 mil homens nessa m…”
Conforme ainda a liderança Tembé, durante a conversa com o advogado, que foi gravada, o delegado da Polícia Civil paulista aposentado, que ele identificou como Valter, se meteu no diálogo e disse as seguintes palavras; “Presta atenção, a causa foi ganha, viu? Ô Patê, vamos parar com a brincadeira com a gente aqui, chega de brincadeira, olha, nós ganhamos a causa no STJ, entendeu bem? Não tem brincadeira e eu não tô entendendo porque você veio falando dessa forma com a gente aqui. A causa está ganha e a terra é nossa. Se você não parar com essa coisa aí, eu vou entrar com 3 mil homens nessa m… entendeu bem?”
Para o líder, as ameaças foram no sentido de invasão da Reserva Tembé para ocupação e derrubada da mata restante para plantação da lavoura de dendê. Na época, ressaltou ele, a empresa não tinha cumprido a ameaça, mas agora os milicianos armados começaram a fazer incursões nas estradas da Reserva Indígena em vários veículos. A BBF também suspendeu os pagamentos acordados, prejudicando o calendário de execução dos projetos, causando enorme dano e colocando em risco a comunidade da Reserva Tembé de passar fome, pois os índios deixaram de plantar suas roças tradicionais, contando com o que foi acordado com a empresa.
O Ver-o-Fato não conseguiu contato com a BBF para ouvir a versão da empresa sobre as denúncias feitas pelos indígenas. O espaço está aberto à manifestação da multinacional.
Áudio da conversa, abaixo, com o advogado quando o chefe de segurança Valter entra na conversa e ameaça invadir com 3 mil milicianos a Reserva Indígena