O Norte do País, conhecido pelas paisagens verdes e diversidade gastronômica, também ganha destaque a partir de produções culturais. O documentário “Várzea Wave: Rios”, lançado nesta última sexta-feira, 22, traz relatos de indígenas e quilombolas sobre a importância da música em suas experiências cotidianas. Dirigido por Diego Orix Farias, o filme é uma produção do coletivo Várzea Wave, composto por artistas paraenses que misturam ritmos urbanos, como o eletrônico e synthwave, com os mais diversos ritmos tradicionais da região, que vão além do carimbó.
Foi a partir da soma do estilo popular amazônico com o pop que o cantor e compositor paraense Felipe Cordeiro ganhou destaque no cenário nacional. No filme, o artista navega pelas comunidades ribeirinhas próximas aos rios Tapajós, Amazonas, Arapiuns e Jauari, para mostrar que não é só nos grandes centros urbanos que se faz música. Nessas comunidades, agricultores, quilombolas e indígenas são também artistas.
Para impulsionar a visibilidade artística desses povos, o diretor definiu o objetivo central do filme.“Queremos trazer a cultura do povo indígena e quilombola para mais perto da sociedade urbana. Para fortalecer a música paraense, é preciso mostrar às novas gerações as canções regionais e incluir os povos tradicionais nesse processo”, declara Diego.
Tendo em vista que, de acordo com o IBGE, 96% da mandioca produzida vem da agricultura familiar e que a castanha ocupa o segundo lugar do ranking dos produtos não madeireiros mais extraídos da região Norte, é natural que as canções produzidas no local sejam reflexos deste universo.
Através da música, os personagens do curta falam não só sobre a rotina de trabalho, como fazer a farinhada ou produzir castanhas, mas também ressaltam a força da mulher indígena, falam sobre a resistência dos quilombolas ao perpetuar tradições africanas, além de expressarem seus sentimentos de amor à natureza e da urgência de preservá-la.
Representatividade no cenário nacional
De acordo com o diretor do curta, a música paraense já foi bem difundida a partir do sucesso de alguns artistas como Gaby Amarantos e Dona Onete, mas ainda existem muitos outros que não tiveram a oportunidade de mostrar seus talentos. O documentário prova que fora dos holofotes da mídia e fora dos trending topics das redes sociais, existe uma cultura rica e contemporânea que precisa ganhar espaço.
Ainda sobre os objetivos da obra, Felipe Cordeiro, que faz a narração no curta-metragem, destaca um outro ponto importante: desmistificar a ideia de que as músicas tradicionais estão ligadas ao passado. “Quando você faz arranjos urbanos, não é que você esteja ‘atualizando’, você está fazendo elos de uma contemporaneidade com outra”.
O cantor ainda afirma que mencionar a cultura do passado no Pará é falar sobre uma cultura recente, considerando que o processo de colonização da região foi tardio em comparação às regiões litorâneas. “A música popular é, sem dúvida nenhuma, um dos principais eixos de formação dessa noção de identidade cultural amazônica. Ela se fortalece a partir dos anos 50 e segue forte até hoje”, pontua.
O filme “Várzea Wave: Rios” está disponível no YouTube. Neste link, você pode assistir ao filme completo: https://www.youtube.com/watch?v=nchDe7WMMeU
Ficha Técnica:
Direção: Diego Orix Farias
Produção executiva: Marcos Colón
Direção de Produção: Vinícius Villare
Direção de fotografia: Bruno Erlan
Direção de arte e fotografia still: Thasya Barbosa
Narração: Felipe Cordeiro