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A decisão do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, de manter congelado em R$ 2,70 o preço da passagem de ônibus, está provocando muita polêmica nas redes sociais. Os simpatizantes do prefeito dizem que ele foi magnânimo. Os adversários atribuem seu ato a oportunismo político. Mesmo com a tarifa congelada, o maior problema do transporte coletivo de Belém continua sem solução.
Trata-se da cidade travada pelo tráfego congestionado e pelo trânsito caótico/neurótico, com frota sucateada e suja e pela falta de autoridade das autoridades ditas competentes da área (Semob) em fiscalizar e retirar de circulação os ônibus com validade vencida. Em sua maioria, eles são mandados do Rio de Janeiro, após circularem , no mínimo, cinco anos pelas ruas da Cidade Maravilhosa. Essa falta de respeito com os paraenses o prefeito também deveria repelir.
Os donos de ônibus são os “coronéis do atraso”, responsáveis maiores pela manutenção do “status quo” reinante na bagunça do trânsito da cidade, pois se recusam a estudar qualquer plano de mudança no planejamento do tráfego urbano. Circulam no eixo Ver-o-Peso e Presidente Vargas mais de 500 ônibus, diariamente, alguns quase vazios, queimando combustível. Falta racionalidade e bom senso.
Estação Rodoviário no centro da cidade só existe em Belém dentre as capitais brasileiras. Sinais de três e quatro tempos, além de cocadas baianas como balizadores de tráfego são também sinais exteriores do atraso e da falta planejamento urbano de tráfego. Medidas cosméticas continuam sendo adotadas, desprezando-se o Plano Diretor de Tráfego Urbano (PDTU) dos japoneses da Jica, que na década de 80 previram que a cidade iria travar por volta do ano de 2010, caso nenhuma de suas propostas de serviços e obras fosse executada.
Nada do que eles recomendaram foi feito ao longo dos últimos 30 anos. A cidade está quase parada. Ter carro próprio, que já foi um sonho de consumo, está virando pesadelo. As vias de uma cidade são como as veias no corpo humano: quando elas entopem o organismo entra em colapso. É o caso de Belém.
Projeto mal planejado e pior executado, o BRT, que já se arrasta por longos 12 anos, devorando recursos públicos da ordem de R$ 240 milhões, em duas gestões similares, com sua inauguração meia-sola antes das eleições, não vai resolver os graves problemas dos gargalos do trânsito de Belém, sem a construção de novos corredores de tráfego, elevados e viadutos nos principais pontos de estrangulamento da cidade.
Tradicionais financiadores de campanhas eleitorais, os donos de ônibus certamente não estão gostando nada da atitude de Zenaldo, de vetar o novo aumento. De qualquer forma, a medida serviu para aliviar um pouco o sufoco de quem estuda e trabalha e depende do transporte coletivo na cidade. Espera-se que a fatura cobrada pelos donos de ônibus, passadas as eleições, não seja salgada demais para a população de Belém. O novo prefeito vai precisar de coragem para desmontar esse jogo de cartas marcadas.
* Francisco Sidou é jornalista e escritor
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