Quando o Paysandu jogava na primeira divisão do campeonato brasileiro, meu acesso aos jogos ao vivo era exclusivamente via rádio. Toda quarta-feira e domingo, eu estava lá, atento a cada lance. A rotina consistia em ouvir o jogo, imaginar os gols e esperar até o dia seguinte, geralmente no horário do almoço, para enfim ver como tudo aconteceu.
Havia um prazer imenso em tudo isso. Mesmo que fosse sabido que o radialista contava certas “potocas”, fazendo com que qualquer jogo morno fosse sempre empolgante e parecendo que a bola estava sempre rondando o gol. O espetáculo sempre estimulava o poder de imaginação.
O rádio, com seu enfoque na voz, induzia um relaxamento através da concentração, tal como a leitura. Este panorama cada vez mais foi deixado de lado por conta da rapidez dos nossos tempos, sobretudo nos mais jovens. Mas de uma hora para outra, eis que volta a ser relevante o fenômeno de apenas ouvir, atraindo cada vez mais pessoas para horas de podcast.
Entre os podcast mais ouvidos do país, está o Nerdcast e o FlowPodcast. Os dois com formato de entrevistas, sendo o primeiro para um público específico, da bolha Nerd, e o segundo disposto a interagir com todas as bolhas. Estamos falando de gravações que duram mais de 3 horas de bate-papo e alcançam facilmente 100 mil acessos em menos de 24 horas. Um sucesso entre os jovens.
A variedade de assuntos é incrível. Temos podcast direcionado ao cinema, política, culinária, sexo, notícias, futebol, videogames, enfim, uma diversidade que mostra o quanto vem se tornando relevante. Os principais jornais do país já fizeram suas plataformas e cada vez mais vem produzindo conteúdo.
O que aconteceu que de repente a atividade de apenas ouvir pessoas falando sobre um tema voltou a ser pop? A inovação traz de volta aquele velho prazer, que para muitos parecia esquecido ou nem mais existia, do hábito de se concentrar unicamente na voz e conteúdo do emissor.
Me peguei ouvindo 3 horas seguidas de podcast sobre física quântica, parecendo tão rápido e estimulando tanto a imaginação, que por um momento pensei estar com o ouvido colado no rádio, tentando sintonizar aquela estação certa.
O mundo gira.
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