Quem se interessa por Jornalismo fica sempre impressionado quando um caso de corrupção na administração pública vem à tona através de algum veículo de comunicação. Há ali o trabalho difícil executado pelo profissional da imprensa que teve acesso a dados obtidos por poucas pessoas.
Sua proeza, na exposição pública de um crime cometido nas entranhas do Governo, exige qualificações raras: faro treinado, contatos estratégicos, trânsito em áreas privativas, determinação e, sobretudo, convicção, equilíbrio e senso ético ao causar estragos morais e materiais a alguém.
Por isto, provoca tanta sensação a leitura de um texto com a exibição do modo astuto, com o qual foi escondida uma depravação no funcionamento da máquina administrativa do Estado, posta a funcionar em benefício dos interesses particulares de um figurão.
Essa fixação do interesse jornalístico na mesma área da administração pública, no entanto, é natural e previsível, numa fase de liberdade de imprensa no país. Qualquer leitor de jornal sabe que, numa fase assim, a pessoa que se apresente, diante da opinião pública, com a pretensão de ocupar um posto-chave no comando do país, inevitavelmente, levará a imprensa a examinar sua atuação anterior.
Um candidato favorecido nas pesquisas de intenção de votos, de uma eleição importante para o País, inevitavelmente atrairá a atenção dos melhores repórteres investigativos do país, segundo as regras do chamado jogo democrático.
Contudo, os apreciadores dos textos do Jornalismo Investigativo não devem esquecer algo próprio da natureza deste jogo: nele, estão representados os mais variados interesses, e, não apenas os da maioria da população. E, como alertava Karl Marx, numa sociedade dividida em classes sociais, como a nossa, os interesses dominantes são os da classe social dominante, à qual pertencem, obviamente, os proprietários dos jornais e revistas.
Eles, por sua vez, entretanto, não sobrevivem a não ser abrindo um largo espaço em suas publicações também para os interesses de seus leitores, supostamente pertencentes à classe social da maioria da população.
Portanto, os textos de Jornalismo Investigativo, nascem de uma situação complexa e cheia de nuances, para a qual os leitores devem dedicar muita atenção. Nela, estão inseridos ainda as idiossincrasias dos próprios repórteres. Estes profissionais se alimentam de ousadia, mas não fogem à sina do empregado.
Convivem obrigatoriamente com a instabilidade dos humores de seus patrões. E têm lá, também, a sua porção de vaidade, inevitável num ser humano.
*Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista