Um movimento de protesto tomou as ruas de Belém e de outros municípios do estado do Pará, nesta terça-feira, 3, liderado por professores do Sistema Modular de Ensino (SOME), contra o governo de Helder Barbalho. A principal reivindicação dos educadores é a rejeição ao novo modelo de ensino, o CEMEP (Centro de Educação Modular e Permanente), que propõe substituir professores em sala de aula por televisores.
Os manifestantes alegam que essa medida representa um grave retrocesso na qualidade da educação e desvaloriza o trabalho dos docentes, afetando especialmente as regiões mais distantes, onde a presença do professor é fundamental para garantir o acesso à educação.
Em Belém, o protesto acontece em frente à Casa Civil do governo estadual, na avenida Almirante Barroso, e também teve outros pontos de mobilização, como na entrada da Alça Viária. No interior do estado, várias cidades se manifestam. O Sistema Modular de Ensino, que tem como objetivo atender alunos de localidades remotas da Amazônia, enfrenta agora uma ameaça de desmantelamento. O SOME é essencial para garantir a educação de crianças e jovens de comunidades isoladas, como povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Nessas regiões, onde a infraestrutura de ensino é escassa, os professores representam a única presença do Estado.
Porém, a proposta do governo Helder Barbalho de substituir esses educadores por TVs nas escolas é vista como uma tentativa de reduzir custos, mas com graves consequências para a educação.
Retrocesso inaceitável
De acordo com os manifestantes, a implementação de televisores e materiais digitais, como parte do CEMEP, não apenas precariza o ensino, mas também deixa os alunos sem o contato humano necessário para um aprendizado de qualidade. Os professores afirmam que a educação presencial é crucial para o desenvolvimento crítico dos alunos, especialmente nas regiões mais vulneráveis do estado, que enfrentam sérias dificuldades de acesso a tecnologias.
“A substituição do professor por uma TV nas escolas da Amazônia é um retrocesso inaceitável. As crianças e jovens dessas comunidades precisam de um ensino de qualidade, com professores qualificados e presença humana, e não de uma educação impessoal e desumana”, destaca uma das líderes do movimento.
O descontentamento é ainda mais intensificado pela falta de recursos e infraestrutura nas localidades atendidas pelo SOME. Muitos dos professores que atuam nessas áreas enfrentam condições de trabalho precárias e relatam assédio moral e psicológico dentro da própria Secretaria de Educação.
“O que estamos vivendo é uma verdadeira desumanização do ensino. O secretário de Educação tem demonstrado total descompromisso com a realidade dos professores. Muitos colegas têm procurado ajuda psicológica e licença médica devido ao constante assédio”, denuncia uma professora que pediu anonimato.
Além disso, a redução na demanda por novos professores, como consequência da implementação do modelo CEMEP, gera uma grande preocupação para aqueles que desejam ingressar na rede estadual de ensino. A substituição dos educadores por tecnologias pode provocar uma queda drástica nas oportunidades de trabalho para esses profissionais, além de agravar a crise no setor educacional do estado.
Postura de resistência
Especialistas apontam que o governo de Helder Barbalho tenta equilibrar as contas públicas, mas a medida de substituir professores por televisores levanta sérias dúvidas sobre os reais benefícios dessa mudança, principalmente em um estado com as desigualdades sociais e educacionais que o Pará enfrenta. A mobilização de hoje também tem um fundo de resistência à alteração no calendário escolar de 2025, em decorrência da realização da COP-30, que já gerou temor de uma nova greve da categoria.
A grande preocupação dos educadores, no entanto, é com o impacto dessa decisão na formação dos estudantes. A educação de qualidade vai além de conteúdos transmitidos de forma fria e impessoal por uma tela. O aprendizado se dá também na troca de experiências, na relação professor-aluno e no estímulo ao pensamento crítico, aspectos fundamentais para a formação dos jovens, especialmente nas regiões mais carentes.
Os professores reforçam que a luta não é apenas em defesa da categoria, mas pelo futuro das crianças e jovens do Pará. “Se não lutarmos agora, perderemos todos — professores, estudantes e trabalhadores. Estamos falando do futuro das nossas crianças e da valorização da educação como um todo”, afirmou um dos líderes do protesto.
Este é apenas o início de uma série de mobilizações previstas para os próximos dias. A resistência continua em defesa de uma educação de qualidade no Pará, onde o trabalho dos professores, especialmente em áreas remotas, deve ser valorizado e respeitado.
VEJA AS IMAGENS DO PROTESTO