Walbert Monteiro – jornalista
Uma insólita cena, envolvendo “agressão” a um “morador de rua”, ao lado da Igreja da Santíssima Trindade, toldou a beleza do 4º domingo da Páscoa, consagrado à reverência às mães. Decorria a Celebração Eucarística das 07h00, o templo lotado de paroquianos, em sua maioria idosos, quando um dos conhecidos frequentadores da Praça onde se situa (que “abriga” um razoável número de mendigos e usuários de drogas – não confundir uns com os outros). transtornado pelo efeito de seu vício tentou invadir a Igreja.
Um dos responsáveis pela segurança, cidadão de finíssimo trato e respeitado por todos os frequentadores da Paróquia, tentou pacificamente dissuadi-lo do intento, mas resultou ser agredido pelo drogado, o que motivou sua reação de defesa. Não pretendo entrar no mérito se houve ou não excesso no revide, pois importa analisar, friamente, o contexto desse triste acontecimento que abalou a Paróquia e levantou as discussões sobre a violência do episódio, filmado por algum transeunte (que logo se dispôs a enviá-lo para a exibição sensacionalista na imprensa e nas redes sociais).
Imediatamente se levantaram vozes em defesa da população “em situação de rua”, uma bandeira assaz levantada pelas esquerdas sempre pródigas nos discursos e ineficaz nas ações concretas. O segurança, no cumprimento de seus deveres de proteção aos que se entregavam às orações dominicais, impedindo uma presença que, fora de si, poderia ser altamente perigosa às famílias presentes, entrou na estatística dos desempregados.
Enquanto isso, a área em que se circunscreve a Paróquia da Santíssima Trindade vai se transformando em uma enorme cracolândia e seus moradores assistem, sem ter quem os proteja ou defenda, o crescimento de uma população “em situação de rua” que se apropria dos espaços públicos, usa e comercializa drogas de todos os tipos de forma acintosa, escancaradamente, sem temer qualquer represália. Para o sustento de seus vícios, não hesitam em apelar para a violência e praticar assaltos. Sem qualquer pudor, realizam suas necessidades fisiológicas (e até sexuais) à vista de todos.
A bem da verdade, nossa Paróquia, quer pelos seus dirigentes, quer pelas suas Pastorais, Movimentos e Serviços, têm ido em auxílio dessas pessoas “em situação de rua”, fornecendo-lhes cestas básicas, roupas, algum auxílio financeiro para aquisição de remédios. Há dois espaços destinados ao atendimento de homens e mulheres que necessitam dos cuidados materiais e espirituais a que somos, como cristãos, obrigados a prestar. Mesmo tendo consciência de que o desafio é enorme, porque a demanda é crescente e os recursos diminutos, a Paróquia não tem se intimidado e procura fazer a sua parte.
O que procuram fazer pelo resgate da população em situação de rua e sua consequente reinserção social, os que, neste momento, impactados (de verdade, ou com a hipocrisia oportunista?) com a filmagem que mostra apenas o revide do segurança, omitindo a origem da agressão, erguem seus protestos contra a violência que é inusual? Quais gestos oferecem em seu favor, que traduza em apoio material e não em simples verborragia?
O que os responsáveis pelas políticas públicas em favor dos marginalizados têm efetivamente realizado por eles: Governo Federal, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Prefeitura Municipal, Câmara Municipal, Ministério Público? Existem milhares de crianças como pedintes nas ruas de Belém, enquanto proliferam campanhas de erradicação do trabalho infantil. Há idosos e idosas, doentes, expondo suas mazelas, e ninguém os recolhe para tratamento médico.
Mas, as famílias que necessitam transitar seja para cumprir seus deveres religiosos, seja para se dirigir aos seus trabalhos ou realizar suas tarefas como cidadãos, ficam a mercê dos que, frutos também da insensibilidade politica e da sociedade, condenados a viver nas ruas e nas praças, perdem-se no delírio do consumo das drogas e tem na violência o seu credo.
Refém de seus medos, essas famílias sentem-se desprotegidas e se algum dos seus vem a ser vítima de drogados ou assaltantes, essas vozes que agora protestam, se quedam no mais ululante silêncio.
E, convenhamos, tolerância tem limites.