A construção de rodovias que atravessam áreas de preservação ambiental no Pará, liderada pelo governo estadual, representa uma flagrante contradição em relação ao que será discutido na COP-30, em novembro de 2025. O evento, que terá como pauta central o combate ao desmatamento, queimadas e os danos socioambientais na Amazônia, será realizado em Belém, justamente onde essas obras polêmicas estão em andamento.
O fato de o governador Helder Barbalho, anfitrião da COP-30, estar à frente de projetos que destroem o bioma amazônico, coloca em dúvida o compromisso do estado com a preservação ambiental. Barbalho, que deveria ser o primeiro a zelar pela floresta, lidera iniciativas que caminham na direção oposta aos princípios que a conferência preconiza.
Entre as obras em questão, destaca-se a construção da Rodovia Liberdade e a duplicação e extensão da Rua da Marinha, projetos que têm gerado intensa polêmica. Críticos, especialmente ambientalistas, denunciam os impactos devastadores dessas obras em áreas de preservação ambiental.
A vereadora Professora Silvia Letícia tem sido uma das principais vozes contrárias a essas iniciativas, apontando os prejuízos ambientais e sociais, especialmente no caso da Rua da Marinha. Na semana passada, Silvia Letícia foi ao plenário da Câmara Municipal e utilizou suas redes sociais para denunciar os danos causados pela execução dessas obras, o que gerou fortes reações do governo estadual.
Uma fonte ligada ao governador Helder Barbalho chegou a expressar publicamente sua insatisfação, afirmando: “Essa vereadora, essa mulher, se intromete em tudo! Não basta incomodar nossa vida na educação, agora ela quer meter o bedelho na Rua da Marinha.” A postura do governo revela o desconforto com as críticas crescentes ao projeto.
Destruição e benefícios às empreiteiras
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, a vereadora foi enfática ao denunciar o que considera “a destruição das áreas verdes da cidade em meio à emergência climática global”, ressaltando o absurdo de tais projetos em uma cidade que sediará o maior evento de debates climáticos do mundo.
Da tribuna da Câmara Municipal, no último dia 25, ela questionou a política ambiental de Helder Barbalho e apresentou o Projeto Indicativo 1491/2024, que propõe a criação de um Viveiro Municipal para rearborizar Belém. O objetivo do projeto é combater o aumento das temperaturas e preservar a biodiversidade local, uma resposta direta às iniciativas que priorizam interesses de empreiteiras em detrimento da sustentabilidade.
A vereadora ainda criticou o impacto dessas obras para a população mais vulnerável, destacando o fato de que muitos não têm condições de pagar por sistemas de ar-condicionado para suportar o calor crescente, intensificado pela devastação ambiental.
“É um contrassenso que, na cidade que sediará a COP-30, o governador esteja mais preocupado em beneficiar empreiteiras do que em proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida da população. Não queremos compensações ambientais simbólicas, queremos preservação e revitalização de áreas verdes como o parque da Marambaia, que está abandonado há mais de uma década”, disparou Silvia Letícia.
A vereadora também anunciou que pretende acionar o Ministério Público para questionar a concessão de uma área federal pela Marinha do Brasil ao governo estadual, sem consulta pública, para a duplicação da Rua da Marinha. Segundo Silvia Letícia, o governo estadual avança com suas obras sem o devido debate com a população e com as comunidades diretamente impactadas.
A postura do governador Helder Barbalho, ao mesmo tempo em que se prepara para ser o anfitrião de um evento global sobre mudanças climáticas, mas promove a destruição de áreas de preservação ambiental, expõe uma evidente falta de coerência.
Enquanto busca projetar uma imagem de líder comprometido com o meio ambiente, suas ações revelam uma clara prioridade por interesses econômicos, desafiando a integridade das áreas protegidas que ele deveria ser o primeiro a defender.