Israel não parece disposto a cumprir a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que ordenou na última sexta-feira (24) a interrupção imediata de sua ofensiva em Rafah. A África do Sul, responsável por levar o caso à CIJ, declarou que o “genocídio” cometido por Israel em Gaza atingiu um “nível terrível” na semana passada.
Apesar da ordem, Israel tem sua própria interpretação da decisão da CIJ. Em uma declaração conjunta, o Ministério das Relações Exteriores e o Conselho de Segurança Nacional israelenses afirmaram que o país “não conduziu e não conduzirá operações militares na área de Rafah que possam levar à destruição da população civil palestina, no todo ou em parte”.
Na prática, as autoridades israelenses indicam que continuarão a ofensiva em Rafah. Na manhã deste sábado (25), o exército israelense já estava bombardeando a região ao sul do enclave palestino.
Israel, no entanto, afirmou que pretende seguir as diretrizes da CIJ em Haia, permitindo a passagem de ajuda humanitária pelo terminal de Rafah e tomando todas as precauções possíveis para minimizar os danos à população civil.
Desde o início de maio, o exército israelense lançou operações terrestres em Rafah com o objetivo de eliminar os últimos batalhões remanescentes do Hamas, grupo responsável pelo ataque em solo israelense em 7 de outubro, que deu início à guerra.
O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeitou novamente as acusações da África do Sul contra Israel, classificando-as como falsas. Já o líder da oposição, Yair Lapid, criticou a CIJ por não vincular o fim dos combates à libertação dos reféns, considerando isso um desastre moral.
Na extrema direita israelense, o Ministro das Finanças, Betsalel Smotrich, declarou que a história julgaria aqueles que se aliassem ao Hamas.
Conversas em Paris sobre um Cessar-Fogo
No início desta semana, o promotor do Tribunal Penal Internacional (ICC) solicitou a emissão de mandados de prisão por supostos crimes cometidos na Faixa de Gaza e em Israel contra líderes do Hamas e israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Embora o governo israelense tenha condenado o anúncio, ordenou que seus negociadores “retornassem à mesa de negociações para obter o retorno dos reféns”, conforme uma autoridade de alto escalão.
Negociações indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos no início de maio, falharam em produzir um acordo de trégua vinculado à libertação de reféns e prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
O chefe da CIA, William Burns, é esperado em Paris para tentar relançar as conversas sobre uma trégua. O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu o primeiro-ministro do Catar e ministros das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Egito e Jordânia na sexta-feira. Segundo a presidência francesa, os líderes discutiram a implementação da “solução de dois estados”, visando um estado palestino viável ao lado de Israel. Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram recentemente o reconhecimento do Estado da Palestina.
Os líderes também discutiram como reabrir todos os pontos de passagem para Gaza e aprofundar a cooperação em ajuda humanitária.
Do Ver-o-Fato, com informações de RFI.