O juiz titular da comarca de Igarapé-Miri, Arnaldo Pedrosa Gomes, decretou e a ordem dele foi cumprida ontem pela Polícia Civil, a prisão da diretora de uma escola do município e do coordenador pedagógico do mesmo colégio. O caso envolve abusos sexuais praticados pelo coordenador contra vários adolescentes.
A diretora foi presa porque, no pedido formulado pelo delegado Erick Sales Vilela, ela teria sido omissa e “de forma deliberada deixou de reportar as violações de cunho sexual às autoridades constituídas, além de desestimular as denúncias, ameaçando a adoção de medidas judiciais contra aqueles que citassem a sua omissão”. VEJA ATUALIZAÇÃO NO FINAL DA MATÉRIA.
O Ver-o-Fato teve acesso ao pedido de prisão e por se tratar de caso sob sigilo, por envolver menores de idade protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não divulgará nomes ou iniciais das vítimas, nem da diretora e de seu coordenador pedagógico. Além das prisões temporárias, durante o cumprimento da ordem judicial, a polícia também apreendeu celulares dos acusados.
Segundo narra o delegado, o professor e coordenador pedagógico, um homem casado, teria “violado a dignidade sexual” de quatro adolescentes com idades entre 15 e 16 anos, alunos da escola, dentro do próprio estabelecimento de ensino. Com apoio do Conselho Tutelar de Igarapé-Miri e do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) do município foi possível identificar “atos gravíssimos perpetrados no ambiente escolar, local sinônimo de aprendizado, evolução, brincadeiras, alegria e paz, violados pelo coordenador pedagógico”
Relatos de abusos
Uma das vítimas, de 17 anos, na presença da mãe e diante da autoridade policial declarou que na noite do dia 16 de agosto deste ano foi conversar com o coordenador pegagógico sobre o transporte escolar para a sua casa, quando o professor teria pedido que o aluno aguardasse até o final da aula que teria uma resposta. Assim, no final da aula, o professor teria chamado a vítima para a sua sala, trancando-a, apagado as luzes e pedido que o estudante tirasse a roupa. Diante da negativa, o coordenador arrancou a roupa do aluno e, contra a vontade dele, praticou sexo oral.
Diz o o delegado no pedido de prisão que “ainda sobre a vítima, chama atenção o relato espontâneo prestado diante da assistente social do Creas de Igarapé-Miri, no sentido de que o coordenador teria dito ao adolescente: “me mostra essa tua p…me falaram que é grande” e que ninguém chegaria ao local, pois tudo estaria acertado com o vigia”.
Outro adolescente, de 16 anos, também vítima do suposto abusador sexual, declarou que antes das férias de julho deste ano, o professor e coordenador pedagógico chamou o aluno até a sua sala para conversar sobre um suposto caso de ato infracional que o estudante teria respondido. Então, ao chegar na sala, o coordenador teria lhe dito que se não quisesse ser castigado, deveria manter relações sexuais com ele, a fim de limpar o seu nome na escola.
No depoimento, o aluno contou que o coordenador somente não consumou o seu intento porque uma professora entrou na sala no momento da conversa. A vítima também afirmou que não teria sido a primeira vez que o coordenador teria lhe ameaçado de expulsão da escola em troca de relações sexuais.
A terceira vítima, também de 16 anos, declarou perante a autoridade policial que no dia 17 de agosto foi pagar ao coordenador a inscrição dos jogos de 07 de setembro, junto com um amigo, sendo que o amigo pagou primeiro e se retirou da sala. Em seguida, o coordenador o deixou por último e pediu que aguardasse para assinar documentos, quando, então, teria trancado a porta, fechado a janela e apagado as luzes e pedido a vítima que mantivesse relações sexuais em troca de aumento em sua média escolar. Nesse mesmo fato, o coordenador ofereceu celular e dinheiro e lhe dizia “quero transar com você” e diante da negativa, teria tentado amarrar o aluno com uma corda, mas o estudante teria empurrado o coordenador e saído correndo do local.
Por último, a quarta vítima, de 15 anos, em seu relato espontâneo fornecido ao Setor de Serviço Social da Delegacia de Polícia Civil de Igarapé-Miri, contou que no início das aulas de 2023, o professor e coordenador pedagógico teria perguntado o seu nome para um colega e informado que queria conversar com o aluno. Nesse relato, o adolescente afirmou que foi conversar com o coordenador e ele teria lhe dito que tinha o achado muito atraente, que teria ficar com ele e que conforme ele gostasse ainda lhe daria presentes.
A vítima relatou ainda, que o coordenador sempre tentava apalpá-lo e passar a mão em seu peito e que, dizendo que queria que “pegasse ele” para que o coordenador completasse e corrigisse as provas. Informou também que o coordenador lhe enviava mensagens de texto por celular via Whatsapp e que mesmo após tê-lo bloqueado, o coordenador teria reiterado os contatos via Instagram.
Diretora não tomou providências
Sobre a diretora da escola, agora com prisão temporária decretada, o relato do delegado diz que a sala dela fica ao lado da sala do coordenador pedagógico e que ele, para praticar seus abusos sexuais contra os alunos, colocoupecículas na janela sem quea diretora tomasse qualquer providência para removê-las.
“Causa estranheza diante do suposto desconhecimento de casos por parte da diretora, além daqueles registrados no livro de ocorrências escolares.Todo esse contexto fático indica conduta omissiva da diretora quanto a sua condição de garantidora da integridade dos infantes diante de repetidos episódios, os quais vem acontecendo – comprovadamente – ao menos desde o início de 2023, chamando atenção o fato de que ela teria afirmado para dois alunos que iria processar “quem metesse” o nome dela nas denúncias e que também faria um documento para que o corpo discente da escola assinasse pleiteando o retorno do coordenador para a unidade escolar”, observa o delegado.
Ele ressalta que a diretora “somente noticiou os graves fatos formalmente à Secretaria Municipal de Educação de Igarapé-Miri após tomar conhecimento de que os pais de alguns alunos teriam acionado a Polícia Civil e o Conselho Tutelar, o que teria feito sob a orientação de um advogado, como forma de tentar encobrir a sua inércia e omissão. A reiterar a inércia e omissão da diretora, continua o delegado, também chama atenção o relato da mãe de uma das vítimas dos abusos. Ela contou que seu filho teria sido proibido pela diretora de ter uma namorada no recinto escolar, o que gerou a interpelação no sentido de que os alunos não poderiam namorar, mas o coordenador poderia assediar os alunos”.
Por fim e não menos importante, chamam atenção os fatos existentes no relatório social circunstanciado elaborado pela Secretaria de Assistência Social de Igarapé-Miri, dizendo que uma das vítimas “estaria sendo constrangida na comunidade escolar por ter denunciado o coordenador, sendo repreendido veementemente por um professor de matemática, que que teria afirmado que o aluno estragaria uma carreira de 30 anos do coordenador, bem como do porteiro da escola, que teria condenado a vítima por denunciar o coordenador. “Estes os fatos, em síntese, que demandam pronta e enérgica intervenção estatal, para salvaguardar os adolescentes e o recinto escolar da conduta incontida do coordenador pedagógico, bem como da omissão deliberada da diretora”.
ATUALIZAÇÃO AS 14H30
Defesa esclarece
A defesa da diretora da escola entrou em contato com o Ver-o-Fato para informar que ela não foi presa, como divulgado acima, mas que a Justiça mandou cumprir mandado de busca e apreensão contra ela.
“O Juiz Titular da Comarca de Igarapé-miri, Dr. Arnaldo José Pedrosa Gomes, decretou a prisão temporária apenas do coordenador pedagógico (parte em segredo de justiça), por 30 dias. Já em relação a diretora houve somente medida cautelar de busca e apreensão.
O coordenador pedagógico já prestou depoimento na Polícia Civil e negou todas as acusações. A defesa dos investigados está trabalhando duro para provar a inocência dos dois servidores públicos, que em décadas de serviço público, jamais sofreram qualquer tipo de acusação criminal, seja de que natureza for.
A defesa pede que, como o inquérito policial tramita em segredo de justiça, sejam preservados os nomes dos dois servidores investigados. Por fim, a defesa confia na inocência de seus clientes e provará isso no curso das investigações”, disse o advogado Amadeu Filho..