No Brasil, a disparidade no tratamento judicial entre crimes de colarinho branco e delitos de menor monta é um tema recorrente que alimenta a indignação e a desconfiança da população em relação ao sistema de justiça. Um exemplo contundente dessa disparidade é o caso recente do pintor Marcelo da Silva Nunes, de 36 anos.
No dia 18 de janeiro deste ano, Marcelo foi detido sob acusação de tentativa de furto em um supermercado, onde teria tentado levar um pão doce no valor de R$ 7,83, dois desodorantes totalizando R$ 39,80 e duas pastas de dentes avaliadas em R$ 33,98. Menos de três meses após sua detenção, em 9 de abril, o pintor foi condenado a uma pena de 5 meses e treze dias de reclusão em regime fechado.
A condenação do pintor pelo furto do pão doce foi proferida um dia depois de a justiça paulista rejeitar um segundo pedido de prisão do empresário rico, Fernando Sastre de Andrade Filho, motorista do Porsche que bateu em um carro de aplicativo e causou a morte de Ornaldo da Silva Viana. A decisão, que está sob sigilo, partiu da 1ª Vara do Júri da Capital.
Este caso lança luz sobre uma realidade perturbadora: enquanto pessoas como Marcelo são punidas com rigor pela justiça por pequenos delitos, indivíduos envolvidos em escândalos de corrupção e desvio de verbas públicas muitas vezes permanecem impunes, sem sofrer as devidas consequências pelos danos causados à sociedade.
Justiça: dois pesos, duas medidas
A impunidade dos chamados “ladrões dos cofres públicos” não apenas alimenta a desconfiança da população nas instituições, mas também reforça a percepção de que há uma justiça diferenciada para diferentes estratos sociais. Enquanto os mais pobres são punidos com severidade por crimes muitas vezes motivados pela necessidade, os poderosos desfrutam de um sistema que muitas vezes os isenta de responsabilidade por suas ações.
Diante desse cenário, torna-se urgente uma reflexão sobre a necessidade de uma reforma no sistema judicial brasileiro, a fim de garantir que a justiça seja verdadeiramente igualitária e que todos os cidadãos sejam tratados com equidade perante a lei. Enquanto casos como o de Marcelo Nunes continuarem a ocorrer, a busca por uma justiça verdadeiramente justa e imparcial permanecerá como um desafio crucial para a sociedade brasileira.