Nascida na comunidade Santa Júlia, zona rural de São Domingo do Capim, Rosália Albuquerque, ou Rosa – como é conhecida -, é a mais nova mestranda da UFPA, na linha de pesquisa de literatura, memórias e identidades, do Programa de pós-graduação em Letras da instituição. Tal feito, carrega consigo uma trajetória de muita inteligência, força de vontade e competência.
Rosa chegou em Belém carregando o sonho de se tornar universitária. O objetivo foi melhor viabilizado após conseguir uma bolsa parcial em um cursinho preparatório na capital. Então, com a rotina de estudos, aliado com o suporte de sua família – em especial de seus pais -, ela conseguiu ser aprovada no curso de letras em 3 universidades públicas, das quais escolheu a UFPA como morada de sua luta e sonho.
Mas logo alguns problemas apareceram, como o fato de precisar se mudar de Belém para Benevides, por conta do alto preço do aluguel. Ela lembra que não havia portas, janelas ou banheiro quando chegaram ao imóvel. Esse foi um período difícil, houve grande sacrifício por parte de seus pais, além dos longos deslocamentos entre casa, trabalho com aula de reforço e estudos.
Sair de casa pela manhã e voltar à noite – algumas vezes até de madrugada – virou uma rotina que além de cansativa e perigosa, afetava sua saúde. Eram pelo menos quatro ônibus por dia, sendo que perder um deles significava grande atraso e perigo de assalto – como aconteceu quando perdeu o horário do último transporte até Benevides. Esse panorama a obrigava a pedir licença ao professor da última aula para chegar a tempo em São Brás, antes da partida do busão.
Na universidade ela conseguiu entrar em um grupo de pesquisa de literatura, onde ganhou uma bolsa de iniciação científica, o que lhe ajudou até o fim da graduação. No último ano de graduação, a rotina de dedicação se equilibrava entre aula particular, TCC, estágio, projeto de iniciação científica e aulas. Por conta disso ela atrelou suas pesquisas na iniciação ao projeto de TCC que, posteriormente, daria subsídios para seus planos no mestrado.
A perspectiva de fazer mestrado estava em grande parte aliada ao panorama de desemprego, sobretudo porque o cenário para professores de espanhol estava se precarizando por escolhas políticas que tornava o ensino desta língua não obrigatório para as escolas, o que indiretamente estimula a pouca oferta e, consequentemente, o desemprego. Mas não era tão simples chegar ao mestrado, o processo é longo, burocrático e não dá garantias de bolsa.
Então, ela se formou e buscou a graduação de letras-alemão – mesmo que seu sonho fosse o jornalismo -, pois nesse poderia conseguir continuar como pesquisadora da área e, de tal maneira, com auxílio da bolsa. Esse plano se efetivou, mas após um tempo conseguiu entrar como estagiária em uma escola de idiomas, sendo que após alguns meses foi efetivada, possibilitando deixar a bolsa da universidade. O próximo passo era o mestrado.
Foi uma saga de 4 longos e complicados meses de processo seletivo. Adaptou seu TCC ao projeto de mestrado e, faltando 1 hora para o término das inscrições, conseguiu efetuar a sua. Foi passando de fase em fase e, finalmente, depois de toda essa trajetória, um alívio: foi aprovada no mestrado.
E o futuro? Ela mesmo responde: “Eu precisarei trancar o curso de Letras-alemão, para conseguir ficar no mestrado. Quero dar o meu melhor nessa nova fase, porque depois que entrei para o grupo de pesquisa, almejei muito viver esse momento. Eu quero aprender tudo o que eu puder, escutar bastante, falar também, produzir textos (já que sou apaixonada pela arte das letras) e ir planejando as possibilidades de estabilidade como profissional e também pessoal”.
E continua: “pretendo seguir lutando para ocupar meu espaço e também lutando para que outras pessoas, principalmente as meninas da minha comunidade tenham a oportunidade de também viverem as pequenas grandes conquistas que consegui alcançar. Quero principalmente, depois desse processo e ao longo dele também, ajudar meus pais. Eles abriram mão de seus planos para me ajudar a seguir firme longe de casa”.
Ao que parece, como toda Rosa e suas parábolas que fazem o contraste entre a beleza e os espinhos, Rosália carrega uma trajetória difícil e admirável, ao mesmo passo. Mas, assim como a primavera, nada poderá deter a força de sua chegada. Ela já chegou muito longe e, com certeza, é só o começo.
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