Durante mais de 60, dos 89 anos de vida, o cametaense Gerson dos Santos Peres – morto ontem em decorrência da Covid-19 – foi figura destacada na política e nos meios educacionais do Pará. A “Patativa de Cametá”, como era mais conhecido nos círculos partidários, jornalísticos e empresariais do estado, foi um dos recordistas brasileiros no exercício da atividade parlamentar, fato que fazia questão de ressaltar. Parte de sua vida também esteve ligada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), onde atuou como professor.
Gerson Peres nunca desistiu da política e nas últimas eleições, já aos 87 anos, tentou uma cadeira na Assembleia Legislativa, mas não obteve sucesso. O homem que imortalizou a expressão “no Pará só ainda não vi boi voar”, na verdade atravessou os anos 70, 80 e 90 como um dos mais expressivos representantes do Pará em Brasília.
O auge da atuação dele, porém,, ocorreu durante os governos militares, dos quais sempre foi um entusiasta.Teve fôlego e votos nos anos 90 para se manter na Câmara Federal, conseguindo a reeleição em 2006.
Na verdade, Peres começou sua vida política no movimento estudantil, em Belém, formando-se em Direito na Universidade Federal do Pará. Diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) no Pará e jornalista nas horas vagas, foi eleito deputado estadual pelo PTB em 1958, migrou para a UDN e foi reeleito em 1962. Após a chegada dos militares ao poder, ingressou na Arena, partido pelo qual foi reeleito em 1966, 1970 e 1974. Em 1978 foi escolhido vice-governador na chapa que teve na cabeça o governador Alacid Nunes.
No gabinete que ocupou na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), Gerson Peres expunha algumas medalhas conquistadas em reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na vida pública e a frente da diretoria regional do Senai-Pará por quase 60 anos. Na mesma sala, alguns quadros com fotos que marcaram sua trajetória e que se confundem diretamente com a história do setor produtivo paraense, sobre o qual ele teve participação importante.
Segundo a Fiepa, antes de nem imaginar fazer parte de uma administração voltada para a indústria, Peres era professor de Língua Portuguesa e de Latim, sendo, deste último idioma um dos poucos preparados para lecionar. E foi graças a este conhecimento que ele começou a se aproximar da indústria. Deu aulas na primeira unidade do Senai no estado, quando a instituição tinha apenas duas salas.
A luta pelo Senai
“Em pouco tempo tornou-se diretor da unidade e se preparou para isso. Fez estágios em São Paulo e Minas Gerais, além de especialização em educação profissional na Itália, no Centro Internacional de Turim. Sua competência e gestão visionária contribuíram para que o Senai se tornasse a principal formadora de mão de obra qualificada para a indústria local”, destaca a entidade empresarial.
Com forte influência na vida pública, Gerson Peres também travou disputas em prol da educação e do setor produtivo da região. Só para citar poucas: preconizou a necessidade imediata da instalação de uma siderúrgica, no sul do Pará, face a comprovada riqueza mineral que dormia no solo paraense; lutou e conseguiu as federalizações das rodovias Transcametá (BR 308), que integrou o Pará pela região do Baixo Tocantins ao país e a Transoceânica (BR 308), que integra, com redução de 200 Km, a capital ao nordeste brasileiro através da região bragantina.
Diz ainda a Fiepa: “Gerson Peres apresentou, em 1976, Projeto de Lei que dispõe sobre a autorização para o Poder Executivo criar a Comissão de Defesa e Fomento à Produção do Cacau no Estado do Pará, que naquela época já produzia, por ano, cerca de quatro mil toneladas de cacau, que era pequena percentagem sobre a produção nacional, mas era valiosa e substancial na balança do mercado de vendas do produto.
Também lutou para a transformação do Senai em uma entidade de direito privado na constituinte de 1988, mesmo diante de muitas críticas do Governo na época. A emenda criada por Peres apontava para a necessidade de uma grande empresa do porte do Senai ficar mais à vontade para trabalhar, sem a burocracia do sistema público e político. A proposta ganhou mais de um milhão e meio de assinaturas e o Senai passou a ser responsável por quase 50% da mão de obra.
Gerson Peres marcou no Pará sua face e seus feitos, em fases significativas dentro dos seus processos históricos, legando nessas mesmas fases uma transformação geral na vida política, econômica e social do Estado do Pará”.
Nota da Fiepa:
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