O governador do Pará, Helder Barbalho, e sua família, tradicionalmente hábeis em articular o tabuleiro político, enfrentam agora um cenário de pressão e insatisfações crescentes dentro de sua base de sustentação. Com a reforma administrativa recém-apresentada, que envolve secretarias, fundações e agências, veio à tona um jogo de força nos bastidores da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
Deputados estaduais, longe de priorizarem políticas públicas ou serviços, mostram-se mais preocupados com espaços de poder e orçamentos, já antecipando a sucessão estadual de 2026.
No MDB, partido comandado pelos Barbalho, começam a surgir sinais de resistência à escolha de Helder para sua sucessão: a vice-governadora Hana Ghassan. Embora seja a preferida da “família imperial”, a falta de capilaridade eleitoral da vice é apontada como uma fragilidade. Ela não empolga e não tem o traquejo populista que Helder adora em um parceiro para mexer com as massas. A fritura de Hana, diz uma fonte, está crescendo. As costas do governador suportariam, desta vez, carregar politicamente uma candidata tão pesada?
Em vista disso, grupos liderados por alguns proeminentes deputados evitam confrontar Helder abertamente, mas, habilidosos articuladores, mantêm um movimento de tensão dentro do partido. E já cogitam a substituição de Hana. É óbvio que tudo depende de combinação com os russos, no caso os Barbalho.
Eles pressionam para que a chapa de 2026 seja novamente “puro sangue” emedebista, como na eleição passada, com Iran Lima já sendo cogitado como o nome para compor a chapa como vice. O deputado Chicão, por outro lado, diz a todo mundo que prefere seguir trilhando a via parlamentar. Mas, no fundo, é um soldado que jamais diria “não”, caso seja chamado, para pacificar o partido.
A gula do PT
Enquanto o MDB se debate internamente, o PT, liderado pelo ex-senador Paulo Rocha e os Martins, de Santarém, ensaiam uma jogada ousada no tabuleiro. Cientes do desejo de Helder de ser o vice de Lula na chapa presidencial de reeleição, Rocha articulou no PT nacional uma exigência: a vaga de vice na chapa de Helder em 2026 ficaria com o partido.
Contudo, essa possibilidade de Helder ser vice do petista é um desafio até para videntes.
Em se tratando de vice em 2026 no plano estadual, a indicada seria a deputada estadual Maria do Carmo Martins, figura que quase venceu Simão Jatene em 2002.
Esse movimento colocou pressão sobre o senador Beto Faro, enrolado até o pescoço com denúncias de compra de votos e que até então comandava as articulações do PT no estado. Com resultados pífios nas eleições municipais de 2024, Faro agora vê sua influência minguar, enquanto Rocha e Maria do Carmo ganham força.
A ameaça externa: União Brasil e PSB
Outra peça relevante no jogo político é o ministro do Turismo, Celso Sabino. Ele tem declarado abertamente seu interesse por uma das vagas ao Senado em 2026 e, caso sua pretensão seja frustrada, já sinalizou que pode alinhar o União Brasil ao PSB, liderado pelo prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, provável candidato oposicionista ao MDB.
Essa movimentação adiciona mais pressão sobre a base governista, que já enfrenta desafios para acomodar interesses divergentes.
A habilidade política dos Barbalho será posta à prova nos próximos meses. Helder precisará equilibrar as demandas internas do MDB, as pressões do PT nacional e as ameaças externas, enquanto mantém sua base unida em um cenário cada vez mais fragmentado.
O que está em jogo não é apenas a sucessão estadual, mas o futuro do domínio político da família Barbalho no Pará, frente a adversários e aliados cada vez mais impacientes. A disputa promete ser acirrada, e as próximas jogadas serão decisivas para definir quem terá o xeque-mate final.