É impressionante a falta de memória coletiva sobre fatos que estão registrados e que são graves, mas que estão sendo varridos para baixo do tapete, em uma verdadeira onda de impunidade que busca negar todas as investigações e comprovações feitas pela operação Lava Jato. Em uma verdadeira inversão de valores, fica o dito pelo não dito e todos estão livres para continuar a se locupletar.
Foi o que aconteceu esta semana com a ação proposta pelo Ministério Público contra os senadores Jader Barbalho e Renan Calheiros, por recebimento de propina pelos construtores da usina de Belo Monte, no Pará, propagada como maior obra do PAC na gestão Dilma Rousseff, cujo inquérito foi arquivado por unanimidade pelos membros do Supremo Tribunal Federal.
As provas contra os dois senadores, no entanto, estão documentadas em depoimentos e gravações. Renan, Jader e outros “coronéis” do MDB foram investigados por receber propina de empreiteiras que executaram a obra de Belo Monte, usina que gerou quase nenhuma energia, mas abasteceu as campanhas eleitorais do MDB e do PT, na base de 1% dos valores de cada contrato para esses partidos, conforme apontado pelo ex-diretor do consórcio Belo Monte Dalton Avancini, em delação premiada, na qual confessou seu crime.
Na condição de membro da CPI do BNDES, aprovei requerimento de convocação deste senhor e ouvi da sua própria boca a revelação sobre esses pagamentos.
O esquema de corrupção em Belo Monte foi investigado na 49ª fase da Lava Jato, denominada Bueno Fortuna, que teve como alvo principal o ex-ministro Delfin Netto e que revelou um modus operandi que vinha de muito tempo, que consistia no pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e políticos por parte de consórcio de empreiteiras diretamente interessado nos contratos de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
O pagamento de propinas a políticos não ocorreu só em Belo Monte. Delações premiadas como a de Nelson Mello, ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas, apontou o pagamento de R$ 30 milhões à quadrilha comandada pelo ex-deputado Eduardo Cunha, da qual faziam parte parlamentares do MDB, em esquema intermediado pelos operadores Lúcio Bolonha Funaro e Milton Lyra. Essa mesma quadrilha promoveu desvios em fundos de pensão de estatais. Tudo isso constava da delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral, do PT, que agora foi jogada no lixo, por causa do excesso de prazo, não por falta de provas.
O notório Jader Barbalho e seu filho, Helder, quando era ministro da Integração, receberam propina também da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, conforme comprovantes bancários e notas fiscais de empresas laranjas divulgados pela revista Época. O total de R$ 1 bilhão foi repassado entre 2006 e 2017, dos quais R$ 29,1 milhões para o núcleo do PMDB do Senado, composto por cinco senadores, um deles Jader Barbalho, que ficou com R$ 6 milhões em 2014, pagos em notas fiscais frias. Esse dinheiro foi para a campanha de Helder Barbalho naquele ano.
Enquanto a Lava Jato é enterrada, políticos corruptos nadam de braçada e projetam vitórias nas urnas, em um ambiente no qual a corrupção sangra os cofres públicos em cerca de R$ 200 bilhões por ano, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse é um dinheiro que deixa de ir para a educação, a saúde, o combate à fome e outras políticas públicas.
Até quando vamos suportar tudo isso?