O jornal The New York Times revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro passou dois dias na Embaixada da Hungria no Brasil, entre os dias 12 e 14 de fevereiro, logo após a Polícia Federal confiscar seu passaporte em 8 de fevereiro.
O jornal divulgou imagens de vídeo e fotos indicando que Bolsonaro entrou na embaixada em Brasília no dia 12 de fevereiro e só saiu de lá dois dias depois. O NYT publicou ainda fotos de satélite mostrando que o veículo usado pelo ex-presidente ficou estacionado na Embaixada.
A defesa de Bolsonaro confirmou sua presença na embaixada, alegando que ele estava hospedado “a convite” e que durante esse período conversou com autoridades húngaras para “atualizar os cenários políticos das duas nações”.
“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, assinalaram os advogados Paulo da Cunha Bueno, Daniel Tesser e Fábio Wajngarten.
No entanto, a casa de Bolsonaro no Jardim Botânico, em Brasília, fica a 12 quilômetros da embaixada húngara. A distância pode ser percorrida de carro em 16 minutos, segundo estimativa do Google.
No dia 8 de fevereiro, Bolsonaro havia sido alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF), que investiga a tentativa de um golpe de Estado orquestrada por integrantes do governo Bolsonaro. A organização criminosa, segundo as investigações, buscava evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o jornal norte-americano, a estadia de Bolsonaro na embaixada da Hungria sugere que o ex-presidente estava tentando “alavancar a sua amizade” com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que é um político da extrema-direita do país europeu. A estratégia seria tentar escapar de punições da Justiça brasileira, ainda segundo o NYT. A reportagem, contudo, não chega a detalhar algum plano concreto de fuga de Bolsonaro.
No dia da operação, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, defendeu o aliado publicamente. “Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente”, escreveu no X (antigo Twitter).
“Temos boas relações internacionais. Até hoje mantenho relação com alguns chefes de Estado pelo mundo, algo bastante saudável. Muitas vezes esses chefes de Estado ligam pra mim para que eu possa prestar informações precisas sobre o que acontece no Brasil”, disse Bolsonaro em um breve discurso.
“Frequento embaixadas também aqui por nosso Brasil, converso com os embaixadores. Não tenho o passaporte, está detido. Senão estaria com Tarcísio, juntamente com o Ronaldo Caiado, nessa viagem que ele fez a Israel, um país irmão e fantástico sob todos os aspectos”, continuou o presidente.
Bolsonaro discursou no evento realizado pelo PL na zona norte de São Paulo para filiar Sonaira Fernandes, secretária estadual de Políticas para a Mulher e vereadora licenciada, e a vereadora Rute Costa. Elas estavam no Republicanos e no PSDB, respectivamente. Ambas são cotadas para serem candidatas a vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que estava presente.
O ex-presidente também reforçou o apelo para Tarcísio de Freitas (Republicanos) ir para o PL. O governador declarou que o PL estava usando uma “rede de arrasto” para “pescar” diversos quadros. Quando assumiu a palavra, Bolsonaro disse que a “rede de arrasto” iria pegar também governadores e prefeitos. Ao final, provocado pela plateia, disse: “Assina, Tarcísio”.
Defesa reitera fala de Bolsonaro em nota
A defesa do ex-presidente disse que ele passou dois dias hospedados no prédio, mas negou que a estadia se deu por busca de um asilo político. Segundo os representantes do ex-presidente, a presença na embaixada se resumiu em “manter contatos com autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário político das duas nações”.
“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, concluiu a defesa de Bolsonaro.
Pacheco sobre Bolsonaro na embaixada da Hungria: Não posso divagar sobre o que não conheço
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), evitou se posicionar sobre a ida de Jair Bolsonaro à embaixada da Hungria em fevereiro, poucos dias após o ex-presidente ter seu passaporte apreendido pela Polícia Federal. Apesar disso, Pacheco disse que “uma visita a uma embaixada por si só não é indicativo” de que o ex-presidente estivesse tentando fugir da Justiça.
“Não posso fazer divagações sobre fato que pouco conheço. É preciso que se esclareça. Uma visita a uma embaixada por si só não é indicativo. Cabe ao ex-presidente Jair Bolsonaro dar as explicações devidas”, afirmou.
Segundo Pacheco, o fato “precisa ser apurado” e “não podemos fazer ilação sobre as circunstâncias”. “Cabe a ele esclarecer e às autoridades públicas fazer as investigações. É muito difícil de minha parte, do Legislativo, fazer um exame de prova”, completou.
PF investigará se Bolsonaro se antecipou a pedido de prisão ao ficar em embaixada
A Polícia Federal (PF) vai investigar se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou articular alguma manobra diplomática para evitar ser preso no inquérito que apura uma tentativa de golpe. As suspeitas surgiram depois que Bolsonaro admitiu ter passado dois dias na Embaixada da Hungria em Brasília, entre 12 e 14 de fevereiro, após ter sido obrigado a entregar os passaportes na investigação. A revelação foi feita pelo jornal americano The New York Times.
Os policiais federais querem saber se Bolsonaro pediu asilo político, o que a defesa do ex-presidente nega. Os advogados alegam que ele esteve no prédio para “manter contatos com autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário político das duas nações”.
O embaixador da Hungria e o próprio Bolsonaro devem ser intimados a prestar depoimento. O diplomata deve ser ouvido na qualidade de testemunha. Nesse caso, por ter imunidade diplomática, não é obrigado a comparecer.
Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que o ex-presidente pode ser preso preventivamente na investigação se ficar comprovado que ele tentou se antecipar a um eventual mandado de prisão, o que poderia configurar uma tentativa de impedir a aplicação da lei penal.
Itamaraty convoca embaixador da Hungria para esclarecer hospedagem a Bolsonaro
O Palácio Itamaraty chamou nesta segunda-feira, 25, o embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, para prestar esclarecimentos sobre a hospedagem concedida ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Halmai foi chamado pela secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Maria Luísa Escorel. De acordo com nota divulgada pela pasta, o embaixador húngaro esteve no Ministério nesta tarde.
Fonte: Agência Estado.