Através de uma mais longa série de diálogos VIDA, dedicamos somente a Amazônia – mítica, natural e histórica – uma descrição de seus sofrimentos e também riquezas cobiçadas pelo mundo, denunciando seus exploradores e devastadores, nacionais ou estrangeiros ou a cumplicidade dissimulada entre ambos.
Agora é preciso ampliar nossa visão da relação do Homem com a Natureza interrogando e tomando, aqui, conhecimento de como têm sido essas relações.
O homem foi sempre egocêntrico em sua relação com a natureza? Como hoje em dia se tornou – e excluímos, radicalmente, apenas as Crianças deste lodaçal vergonhoso onde alvas flores de Lótus, ainda puras, já só nascem no Imaginário Budista?
Idealmente, mais adiante, recuaremos até bem primordiais períodos pré-históricos – lançando um olhar para a duplicidade mística & natural do predominante Panteísmo de então – apoiados no primeiro dos 3 longos volumes da História das Ideias e Crenças Religiosas, de Mircea Eliade.
Mas ainda é muito cedo para esse salto no abismo do Passado da espécie humana – agora, do alto de sua Modernidade, tão dessacralizadora da Natureza quanto, nesse Passado, a sacralizou – habitando um planeta cheios de deuses: animais, vegetais e até minerais – grandes montanhas, vulcões divinizados, pedras e águas miraculosas.
Recuemos, pouco a pouco, então, andando de costas para nosso Presente, e deixemos para reencontrarmos a Grande Floresta na nossa volta aos tempos atuais.
Agora, iniciemos o nosso retrospecto e avancemos para trás – o quanto possamos – mesmo que não até o Paraíso Terrestre, mítico, do qual o mestre alquimista Paracelso disse: – Quando o pecado invadiu o Paraíso, a Inocência se refugiou na raiz das plantas – o que citei em Silencioso como o Paraíso após o Rumor da sombra humana, livro visível de Viagem a Andara o O livro invisível.
E não será surpresa se iniciarmos pela Velhíssima Europa a mais recente história da poluição da Terra – porque a Europa é a matriz emanadora de muitos malefícios que contaminaram o chamado Terceiro Mundo (Américas, África, Ásia) – ela, das grandes viagens de exterminações e saques de outras civilizações mais inocentes – e panteístas, no pleno sentido de divinizarem a vida natural.
Caiamos, pois, ou melhor- tombemos em um dos corações do Vírus Civilizatório Ocidental – a Inglaterra, a partir dos séculos XVII/XVIII/XIX.
Veremos, através dela, como toda a Europa oscila entre respeitar e violar a Natureza.
Desses séculos extraímos sumariamente descrições que irão gradualmente nos conduzir aos tempos atuais e a regiões de pureza como ainda consegue se manter a Amazônia.
– Havia uma “rígida distinção entre a vida urbana e a vida rural” – nós informa G. M. Trevelyan. Esta representava, por volta de 1700, cerca de 4/5 da densidade demográfica contra 1/5 das cidades. Rapidamente essa densidade se inverteu – passando as cidades a suportarem 4/5 da população e a população rural ficou reduzida a 1/5.
Como isso se deu? Complexo em poucos espaço de texto dizer, mas poderemos fornecer indícios e dados, ao menos.
O que se sabe seguramente é que, antes do fim do século XVIII, depois da Holanda a Inglaterra já era o segundo país europeu mais urbanizado.
Avancemos um pouco mais, e veremos o resto na próxima VIDA.
Os precedentes dessa urbanização alucinada foram, entre outros – a discriminação que, pelo menos desde a Renascença, via com desprezo a Floresta como o lugar dos rústicos e ignorantes. E a cidade como o berço dos sábios, dos cultos – enfim, a partir dos mundos dos negócios e do grande negócio assassino da guerra e sua tecnologia que nos levaria a Bomba Atômica – do mundo civilizador. Por bem ou por mal.
Você já leu Freud: ‘O Mal-estar da Civilização’?
Então leia – vai ser um atalho, breve, mas sombrio, assustador.
E, no entanto, para tornar mais complexa a compreensão do que ia acontecendo nestes tempos pré-modernos europeus, consta que já bem antes de 1802, tornara-se lugar-comum sustentar que o campo era mais bonito que a cidade.
– “Ninguém”, escrevia William Semitone em 1748, “preferirá a beleza de uma rua à de uma relva ou um bosque; na verdade, os poetas não achariam muito tentador o Elísio, se o concebesse como uma cidade.” Tal convicção se devia à deterioração do ambiente urbano. Já surgiam queixas quanto à qualidade do ar londrino desde um século muito antes, bem antes – desde o século XIII.
O uso crescente do carvão para fins industriais e domésticos criara um sério problema de poluição. Isabel – a célebre conspiradora e assassina, conforme narra o Marquês de Sade, em seu importante e minucioso estudo “Histoire Secrete de Isabelle de Baviere, Reine de France/História Secreta de Isabel da Baviera, Rainha da França” – já deixara sua capital, em 1578, devido aos “odores fétidos”, e durante séculos a primeira vista da capital que tinham os viajantes era o ameaçador manto do famoso fog londrino/no inglês do termo: smog.
Margaret Cavendish registra a emoção de seu marido, o marquês de Newcastle, quando, voltando de seu exílio forçado, em 1660, avistou de novo “a fumaça de Londres, que não víamos há tanto tempo”.
O que já no século XVIIl um poeta inglês assim descreveu:
– Assim afastado, eu olho a cidade. Um grupo de edifícios numa nuvem de fumaça.
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