Atlântida era a ilha ou o continente que existiu, há 9.600 anos, segundo relatos de Platão, e, que teria desaparecido. Uma lenda, apenas.
Bem diferente é o Estado do Maranhão/Grão-Pará, que chegou a corresponder a mais da metade do território do Brasil, era um Vice-reino Unido de Portugal.
Mas desapareceu, como se fosse um país extinto.
Sobre ele, há cerca de 4 milhões de documentos, no Arquivo Público do Pará, em Belém. Dos quais 3,5 milhões jamais foram consultados.
O grande estado, dentro do Império Lusitano, se manteve independente do Brasil, durante cerca de dois séculos, inclusive em 1822, ano em que nosso país se separou de Portugal.
Se, naquele momento, o Maranhão/Grão-Pará também tivesse proclamado sua independência do reino lusitano, ele se estenderia pelos territórios do Pará, Maranhão, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia, Roraima, e, ainda, Ceará e Piauí.
Só, em 1823, o Maranhão/Grão-Pará aderiu ao Brasil.
No Arquivo, há documentos da sua primeira fase, iniciada com a fundação de Belém, em 1616.
Quando sua economia extrativista enriqueceu as ordens religiosas instaladas nas suas aldeias, através do monopólio da mão-de-obra indígena.
E sobre sua segunda fase, posterior a 1750, quando a administração portuguesa recuperou o controle da sua economia.
E o estado atingiu seu apogeu.
Belém alçou o status de “a mais moderna cidade da América portuguesa”, com uma aristocracia que apreciava música barroca, poesia arcádica e oratória civil.
Todos estes documentos sobre o Maranhão/Grão-Pará permaneceram nas salas do Palácio Lauro Sodré, até 1894.
O palácio foi construído pelo professor de Arquitetura de Bolonha, Itália, Antônio Landi, assim como igrejas, quartéis e casarões de Belém.
Em 1901, foi criada a Biblioteca e Arquivo Público. E, o historiador Arthur Vianna, diretor do órgão público, deu início ao processo de encadernação daqueles documentos.
Foram, então, descobertos 800 códices com alvarás, cartas régias, decisões, e, correspondências trocadas entre a corte, em Lisboa e o governador do Maranhão/Grão-Pará.
E, ainda, cartas de cidadãos comuns enviadas aos representantes de Portugal.
As cartas, chamadas de “documentos miúdos”, são de grande valor porque delas não há nenhuma cópia em outro arquivo, nem mesmo em Portugal.
Através da leitura delas se pode observar como transcorria a vida nas vilas da Amazônia naquele período.
Em 1904, a documentação foi enriquecida com duas imagens das costas do Maranhão/Grão-Pará, produzidas em 1640, por João Albernaz, cosmógrafo do rei de Portugal.
Elas finalizam um atlas de toda a costa brasileira da época. Sua cópia, no arquivo paraense, é uma das quatro únicas existentes no mundo, segundo o Serviço de Documentação do Itamaraty.
Porém, a parte mais surpreendente do acervo do Arquivo são mapas, plantas e manuscritos da segunda metade dos anos de 1700 produzidos pelos 7 técnicos alemães e italianos -entre eles, Landi – contratados para demarcarem os limites das possessões portuguesas na Amazônia.
- Oswaldo Coimbra é escritor, jornalista e pesquisador.