Dois exemplos simples de comportamentos femininos que sempre deixam os homens intrigados e perplexos.
Primeiro: os relacionados com os cuidados que elas dispensam à pintura de suas unhas, mesmo quando são pessoas sobrecarregadas por seus estudos acadêmicos de altíssimo nível, por exemplo.
Segundo: o da insistência exasperante com que elas (inclusive nossas esposas filhas), buscam em lojas de sapatos, detalhes mínimos nos sapatos que querem comprar.
Neste campo, nós homens comuns, temos de admitir nossa inegável limitação.
Mas, talvez nos sirva de consolo saber que mesmos homens sensíveis e inteligentes se curvam diante das dificuldades em compreender aquilo que é chamado comumente de “o universo próprio das mulheres”.
Já que, até para eles, a apreensão deste universo só ocorre de modo fortuito, breve, instantâneo, e, às vezes, curioso.
Como, por exemplo, aconteceu com o mineiro José Maria Rabelo, figura importante da História do Jornalismo Alternativo de nosso País.
Num período em que ele complementava seu salário com o exercício do magistério, Rabelo entrou num elevador de sua escola – a bata ainda borrifada, na altura do peito, com o pó do giz usado em sua aula.
A seu lado, instalou-se uma aluna, a quem Rabelo não conhecia.
A porta do elevador se fechou.
E, para espanto de Rabelo, a aluna, sem dizer nada, esticou o braço e delicadamente limpou com as pontas dos dedos, o pó de giz na bata.
Rabelo, imediatamente, compreendeu: aquela jovem, de quem não sabia o nome, o amava.
Muitos anos depois, casado com ela – anos de vida em comum já transcorridos -, Rabelo brincava com o que, ele sabia, era um visceral e ancestral compromisso feminino com a preservação da vida humana.
Dizia para ela:
– Está vendo no que deu aquilo? Até hoje, você continua limpando minha bata, não é?
Outra epifania (“uma súbita sensação de entendimento da essência de algo”, como dizem os dicionários), foi experimentada pelo cronista Antônio Prata.
Ocorreu numa cena caseira, enquanto observava a esposa recém-chegada de viagem a outro país, distante, esvaziar sua grande mala, com roupas e outros objetos pessoais.
De repente, no meio das roupas, ela fez surgir uma jarra de vidro grande e bonita.
A moça explicou para Prata:
– Vou pôr nela os sucos dos nossos lanches.
A reação dele foi de incredulidade e espanto. Como ficou registrada na sua crônica “A Jarra”:
– Que coisa curiosa é uma mulher! Que coisa incrível! Jamais me ocorreria comprar uma jarra de vidro.
Menos, ainda, colocá-la numa mala e atravessar continentes com ela.
Mas, no entendimento deste universo tão fugidio, supostamente, o Brasil tem uma grande autoridade masculina.
Chico Buarque.
O título, no entanto, ele enfaticamente, se nega a carregar, no documentário “À flor da pele”.
Chico diz:
– Há sempre para mim um grande mistério na alma feminina. Gosto de ver como elas se movem, raciocinam, reagem diante das coisas.
– Mas a surpresa – Chico conclui – é algo que nunca acaba.
- Oswaldo Coimbra é escritor e jornalista