Comunidades de ribeirinhos e quilombolas do Acará voltam a denunciar que a empresa Agropalma contaminou afluentes e igarapés do rio Acará, despejando tibórnia, um rejeito oriundo da produção de dendê que é reutilizado por ela em forma de fertilizante.
Em vídeos enviados ao Ver-o-Fato, comprovando as denúncias que fazem, pescadores e agricultores da região relatam que o despejo da tibórnia provocou grande mortalidade de peixes. O Igarapé Cariateua foi o mais atingido. Contaminadas, as águas levaram o veneno para o rio Acará, causando outro estrago e danos ambientais.
“Isso, infelizmente, é uma desgraça, uma rotina nas áreas onde moramos. Não sabemos mais o que fazer, pois nossas denúncias nunca são investigadas “, desabafam os ribeirinhos, acrescentando que não podem mais pescar, porque os peixes morreram, nem beber água ou tomar banho nos igarapés.
“Antes da Agropalma aparecer com suas máquinas, seus seguranças armados e seus venenos, a água das nascentes era limpa e sadia, podíamos beber sem medo de doenças. Hoje, ninguém se atreve a tomar essa água e quem já fez isso está doente. Com problemas de coceira pelo corpo, os que tomam banho de rio e igarapé”, diz um quilombola.
O igarapé Cariateua era onde os peixes desovavam, mas depois que a tibórnia apareceu destruindo tudo, ninguém consegue mais pescar. “A Agropalma acabou com a nossa fonte de renda, está muito difícil viver aqui”, conta outro ribeirinho. Ele relata que outro dia ficou muito preocupado ao chegar no igarapé Cariateua e encontrar muitas pessoas tomando banho, inclusive crianças. “Se mata peixes, a tibórnia, imagina humanos”, concluiu.
PM leva motos e carros velhos
Na véspera do Dia de Finados, no começo deste mês, segundo outro morador, pessoas da comunidade estavam limpando o cemitério quilombola Nossa Senhora da Batalha, para reverenciar seus mortos, quando apareceu no local a Polícia Militar, com seus homens. “A mando da Agropalma, levaram motocicletas velhas, mas em funcionamento, e dois carros usados, que até hoje não foram devolvidos”.
Esses eram os únicos veículos que eles possuem para se transportar pela região. Na verdade, não foi apreensão, mas crime de apropriação indébita feita por agentes públicos a serviço de uma empresa sobre a qual pairam muitas denúncias de delitos socioambientais.
Na década de 1990, diz outro quilombola, a prefeitura do Acará abriu um ramal que ligava a rodovia PA-150 ao rio Acará. A Agropalma apareceu e plantou dendê em toda a área da estrada que servia às comunidades, tirando delas o direito de acesso ao rio Acará.
Detalhe: o cemitério quilombola Nossa Senhora da Batalha fica dentro da fazenda Roda de Fogo, cujas matrículas foram canceladas pela justiça por uso de documentos falsos, apresentados pela Agropalma. O pior é que a própria Agropalma, que sempre se declarou donas das terras, agora quer comprá-las do governo do Estado, tanto a Roda de Fogo como outra fazenda próxima, a Castanheira. Juntas, as duas somam 22,900 hectares. Ocupados por plantações de dendê.
A pergunta que fica ar, para as autoridades do governo de Helder Barbalho: e os direitos de ribeirinhos e quilombolas sobre as terras há décadas por eles ocupadas. Vão expulsá-los para entregar tudo de mão beijada à Agropalma, acusada de grilagem das terras pelo Ministério Público?
Reincidente em contaminação
A empresa do grupo do banqueiro Aloisio Faria é reincidente em vazamentos de seus produtos para os rios e igarapés do Acará, principalmente óleo de dendê e a tibórnia. Em março, agosto e outubro de 2019, por exemplo, ela foi denunciada para as Secretarias Municipais de Meio Ambiente do Acará e Tailândia, quanto para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará (Semas).
Ela admitiu apenas o vazamento de óleo de dendê, ocorrido em 3 agosto de 2019, informando em relatório de sustentabilidade que a contaminação havia sido controlada no dia seguinte. Fotografias e vídeos divulgados por ribeirinhos, porém, apontaram que a contaminação permanecia na área.