Dimitre Sampaio Moita, professor do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, explica como as agressões no trabalho podem afetar a saúde mental das vítimas
Nos últimos anos, relatos de violência psicológica no ambiente profissional aumentaram, e diversas pessoas vêm sofrendo com as fortes agressões psicológicas no trabalho, o que resulta em sérios problemas na saúde mental dessas vítimas.
Segundo o professor do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, Dimitre Sampaio Moita, a violência no trabalho está relacionada a diversos fatores e processos sociais que estão ligados a uma estrutura social desigual e injusta.
“Quando se trata especificamente da violência no trabalho, é comum que a sociedade pense apenas nos termos de causas externas, desconsiderando aspectos ligados à organização do trabalho. Porém, com uma visão mais criteriosa, essa atitude requer a consideração de características como condições de emprego, relações interpessoais, tarefas, prazos e metas, cujas definições são determinadas no seio de relações de poderes desiguais”, comenta o professor.
A prática de agressões no âmbito corporativo, ocasiona na vítima sofrimento e sentimentos de humilhação, o que pode gerar a Síndrome do Esgotamento Profissional, mais conhecido como Burnout e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, ambos estão relacionados a essas agressões psicológicas.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o termo violência e assédio no mundo corporativo, trata-se de um conjunto de comportamentos e práticas inaceitáveis, de ocorrência única ou repetida, que visem, causem, ou sejam susceptíveis de ocasionarem dano físico, psicológico, sexual ou econômico.
“Os agressores praticam ataques com frequência de maneira repetida, utilizando as principais características da vítima, como jeito, capacidade, gênero, sexualidade, raça, origem, ou até mesmo pontuais, relacionadas com elementos contextuais como o não cumprimento de metas ou a ausência no trabalho, por exemplo. Vale lembrar, que o comportamento do agressor pode envolver ameaças, ofensas e até agressões físicas”, afirma Dimitre.
Para o professor, em muitos casos, a denúncia da violência relacionada ao trabalho costuma não acontecer por parte dos trabalhadores, dadas as preocupações como a perda do emprego, ou represálias que levariam a mais sofrimento.
“A forma como cada pessoa reage aos atos violentos está relacionada tanto com aspectos de sua história de vida e dos recursos que dispõe para enfrentá-los, quanto com aspectos contextuais, como a organização e solidariedade do coletivo de trabalhadores, que integram políticas de denúncia e fiscalização dos ambientes de trabalho”, explica.
O especialista ressalta que os agressores, costumam estar presentes em empresas onde a própria instituição, possui uma cultura que favorece a prática da violência e não apresenta políticas justas e acolhedoras.
“O importante a se considerar quanto às ações da pessoa agressora, é o quanto a organização de trabalho pode incentivar tais práticas, com uma cultura que favorece ideias de que essa violência faz parte da atividade realizada”, orienta.
Dimitre Moita enfatiza que ao sofrer violência, o trabalhador tem o direito de mobilizar a Justiça do Trabalho para que a situação seja encerrada. Isso pode ser feito através dos sindicatos da categoria profissional que compõe ou do Ministério Público do Trabalho. “É necessário reforçar que tais situações representam ataques a direitos fundamentais das pessoas e à sua dignidade, o que é incompatível com o ambiente democrático e de garantias que desejamos construir como nação”, finaliza.