Alê Santos
Olá, caros leitores!
Hoje a história não é alegre e nem tem um final tão feliz, mas espero que sirva de alerta para muitas pessoas.
Bom, vamos lá!
Peguei uma passageira domingo, às 17h, no PSM da 14 de março. Ela estava acompanhada de uma outra moça, que aparentava ter mais ou menos a mesma idade que ela, por volta de uns 30 anos. A personagem principal da minha história de hoje estava com o braço engessado e o rosto bastante machucado.
Eu estava me roendo de vontade de perguntar o motivo, mas me controlei até certo momento, inclusive porque eu só me envolvo nas conversas dos passageiros quando me introduzem no meio, fora isso jamais sou inconveniente. Com as notícias atuais de violência contra a mulher, eu já esperava o que ouviria em seguida.
A amiga dela falou: “não vais mesmo denunciar esse f…? Agora me conta direito o que aconteceu, mana”. A outra respondeu: “pra ele depois me quebrar de novo? Não sei o que fazer. Se eu for pra casa dos meus pais, vou deixá-los preocupados. Ele agora passou dos limites. Nas outras vezes eu chorei, engoli pelas crianças, mas ele nunca havia me machucado tanto. Não sei o que aconteceu com ele dessa vez. Eu só falei que era pra ele parar com a bebedeira pois ele já estava desde ontem bebendo, fazendo farra em casa e a Gabriela queria dormir”.
A amiga falou: “Amiga, pelo amor de Deus, aproveita a oportunidade e denuncia esse bandido. Isso é Maria da Penha. Vamos, eu te levo hoje pra casa e a gente vai resolver isso juntas”. A outra falou: “Ta louca, amiga? E as crianças? As duas vão ficar com ele sozinhas essa noite? Preciso ficar com elas. E se ele bater na Bianca? Ela vai se rebarbar e não vai prestar. Ah não, mana, não quero nem pensar no que pode acontecer, pois ela já tem raiva dele”.
Fiquei ouvindo tudo aquilo com uma inquietude enorme no meu coração, pois sou totalmente contra qualquer tipo de violência.
A amiga virou pra mim e disse: “você pode recusar as próximas corridas e nos levar na casa dela e depois na minha? É que talvez a gente ainda precise de você. Se você aceitar, vou mudar o destino aqui, acrescentar a parada e qualquer coisa a gente negocia pela simulação, pode ser?”. Eu falei: “Pode sim, senhora”. A que estava machucada falou: “Mana, não te envolve mais ainda, pelo amor de Deus, deixa que eu resolvo!”.
A amiga disse: “Mana, vou te falar uma coisa: já me envolveste nisso até o pescoço e eu sou tua amiga, vou te ajudar. Vamos na tua casa, pegamos as crianças e de lá vamos pra minha casa. Vou descer contigo e falar com ele, te acalma”. A outra disse: “Ele tá bêbado, pode fazer algo contigo”. Ela disse: “Ando com spray de pimenta! Eu vou enfrentá-lo. Não vou admitir isso e não vou aceitar ouvir o teu não. Nós vamos tirar as meninas de lá e ponto final”.
E eu no meio levando as duas e com atenção redobrada, aguardando o desenrolar da história. Avisei no rádio para o meu grupo ficar de QAP e falei por alto a situação e deixei todos de alerta, caso eu precisasse de ajuda. É, caros leitores, nessa lida do asfalto pelas ruas esburacadas e perigosas da nossa Belém, contamos com Deus, a polícia e uns com outros para apoio.
Vou resumir para que o texto não fique tão grande.
Chegamos na casa da mulher machucada, lá no Bengui. O marido estava na porta, sentado, bebendo com uns amigos e as duas filhas estavam brincando na frente. A maior, que aparentava uns 12 anos, estava com a cara de brava e a menor (de uns 5 anos), brincando com as suas bonecas. A maior quando viu a mãe começou a chorar. A amiga então saiu do carro, falou pra mãe ficar dentro do carro, pegou as duas meninas, que entraram no carro rapidamente e pediu pra eu partir em alta velocidade e assim eu fiz. Foi tudo tão rápido que nem deu tempo de o agressor reagir.
Todas começaram a chorar dentro do meu carro e meu coração só faltou saltar pela boca. Que tenso! E que indignação eu estava! Minha vontade era de esmurrar aquele bandido! Um cara grande, agredindo uma mulher pequena, ainda por cima, e com as filhas assistindo tudo aquilo!
Nos dirigimos para a casa da amiga, mas antes parei em um posto pra comprar água para elas beberem. Elas desceram para irem ao banheiro e ficaram mais calmas. Então seguimos viagem. Elas evitaram falar muito sobre o assunto para não piorar a situação perante as meninas que estavam ainda bastante assustadas, mas foi o momento em que perguntei se não seria a hora de irem para a Delegacia de Crimes Contra a Mulher.
Foi então que a amiga falou que era exatamente o que ela queria fazer. A mãe relutou muito, mas decidiu acatar a sugestão e mudamos a rota a caminho da Mauriti, onde fica a referida Delegacia. Ela disse que iria ligar para os pais, pois vendo o estado das filhas, tinha que dar um basta naquela situação.
Bom, eu deixei as quatro na Delegacia e segui meu caminho pensando em tudo o que havia acontecido e no quanto eu me arrisquei. Tanta coisa veio na minha cabeça, mas eu não consigo deixar de agir contra injustiças e covardias.
Não sei o que vai acontecer depois nas vidas daquelas quatro mulheres, mas orei dentro do carro depois que elas saíram, pedindo a Deus que as proteja!
Um repúdio à violência! Homens, parem de agredir suas mulheres, sejam elas suas esposas, namoradas, irmãs, tias, filhas, mães, o que for! Mulheres, não deixem o medo tomar conta de vocês!
Se você for dependente financeira ou emocionalmente dele, saiba que é ruim sem ele, mas é pior com ele! Denuncie! Ligue 180!
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