Na manhã desta sexta-feira (30), uma grande operação de reintegração de posse resultou no bloqueio de várias ruas da Avenida Nazaré, no centro de Belém, devido à ocupação de um imóvel da Receita Federal. A ação, que envolveu centenas de policiais militares, incluindo viaturas e a cavalaria, foi desencadeada após a Justiça Federal deferir um mandado para desocupar o prédio.
O imóvel, pertencente à Receita Federal, estava desocupado há 15 anos até ser invadido no dia 8 de agosto por aproximadamente 80 famílias ligadas ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). O grupo de extrema esquerda, que se diz socialista e é composto majoritariamente por jovens, nomeou a ocupação como “Chico Mendes” e reivindica o direito à moradia no local, resistindo à ideia de deixar o prédio.
O MLB utilizou as redes sociais para justificar a ação, argumentando que a ocupação é uma resposta ao grave déficit habitacional que afeta cerca de 83 mil famílias em Belém. Segundo o movimento, o prédio estava abrigando mulheres, idosos, crianças e outros indivíduos que enfrentam dificuldades de moradia.
A operação de reintegração de posse foi marcada por uma forte presença policial e resultou na interdição de trechos da Avenida Nazaré para a retirada dos invasores. A desocupação foi conduzida com o objetivo de restabelecer a posse do imóvel pela Receita Federal e garantir que a área fosse liberada para seu uso original.
Enquanto a operação ocorria, as ruas ao redor do prédio foram bloqueadas, causando transtornos significativos para os moradores e motoristas da região. O cenário refletiu a tensão entre a necessidade de cumprimento judicial e as reivindicações de um grupo que vê na ocupação uma solução para a crise habitacional enfrentada por muitos na capital paraense.
VEJA AS IMAGENS DA REINTEGRAÇÃO:
Entenda o caso:
Na madrugada do último dia 9 de agosto, aproximadamente 80 famílias, organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), invadiram um prédio localizado no centro de Belém. A notícia foi publicada no dia 20 pelo jornal “A Verdade”, ligado aos “trabalhadores na luta pelo socialismo”.
Na fachada do prédio, localizado na Travessa Dr.Moraes, 53, entre as avenidas Nazaré e Braz de Aguiar, os invasores colocaram frases como ” Aqui acaba a escravidão do aluguel”, ou ” Enquanto morar for privilégio, ocupar é um direito”, ou ainda “Paz entre nós, guerra aos senhores”.
O imóvel, alegadamente desocupado há cerca de uma década, tornou-se palco de uma ocupação que levanta preocupações sobre o respeito ao direito de propriedade em um país que, supostamente, deveria ser guiado pelo Estado de Direito.
O prédio invadido foi transformado na “Ocupação Chico Mendes,” uma homenagem ao líder popular assassinado em 1988, em Xapuri, no Acre. Chico Mendes foi conhecido por sua luta pela reforma agrária e pelos direitos dos povos da Amazônia, mas o uso de seu nome para justificar a ocupação de uma propriedade privada no centro urbano de Belém levanta questões sobre a apropriação simbólica de sua luta em contextos que fogem da realidade agrária que ele defendia.
O MLB justifica a invasão com o argumento de que o imóvel não cumpria sua “função social” e que a ocupação era uma forma de combater as desigualdades sociais que marcam a cidade de Belém, onde mais de 83 mil famílias vivem sem moradia. A cidade, marcada por uma disparidade acentuada entre ricos e pobres, torna-se palco para movimentos como este, que utilizam a ocupação como principal forma de luta.
Após a invasão, as primeiras ações do grupo incluíram a criação de uma cozinha comunitária para combater a fome, a organização de uma creche para as crianças e a promoção de debates políticos. As assembleias realizadas resultaram na eleição de comissões de trabalho, refletindo uma estrutura organizacional que, na prática, desafia a ordem jurídica vigente.