O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi citado indiretamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na tarde deste domingo, 25, em discurso na manifestação realizada na Avenida Paulista. Bolsonaro exaltou os manifestantes e disse que é possível ver um time de futebol sem torcida ser campeão, mas não entender como existe um presidente sem o povo ao lado. “Sabemos como foi o período de 2019 a 2022, e estamos conhecendo agora como está difícil vencer no País com quem temos a nos governar nesse momento”, declarou. Segundo a PM, cerca de 750 mil pessoas estiveram no ato público.
“Não queremos o socialismo para o nosso Brasil, não podemos admitir o comunismo em nosso meio”, disse o ex-presidente.
O ex-presidente afirmou, durante o ato, que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a Presidência no fim de 2022. Em um discurso para milhares de apoiadores, o ex-mandatário negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.
Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal. Segundo ele, estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e deliberação do Congresso, o que não ocorreu.
“Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Por que continuam me acusando de golpe? Porque tem uma minuta de decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Deixo claro que estado de sítio começa com presidente convocando conselho da República. Isso foi feito? não”, disse. “É o Parlamento quem decide se o presidente pode ou não editar decreto de estado de sitio. O da defesa é semelhante. Ou seja, agora querem entubar em todos os nós um golpe usando dispositivos da Constituição cuja palavra final quem dá é o parlamento.”
A manifestação com milhares de pessoas foi convocada pessoalmente por Bolsonaro para mostrar força política e apoio popular no momento em que ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se mostrou satisfeito com a adesão dos apoiadores e disse que a “fotografia vai rodar o mundo”.
“Estou muito orgulhoso e grato por vocês terem aceito esse convite. Era para termos uma fotografia para o mundo, uma imagem para o Brasil e para o mundo do que é a garra e a determinação do povo brasileiro”, destacou.
O ex-presidente mencionou a derrota eleitoral dizendo que “aquela coisa que aconteceu em outubro de 2022” deve ser considerada “página virada”.
Mafalaia e prisão
Coube ao pastor Silas Malafaia, organizador do ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, fazer os ataques mais diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao afirmar que se prenderem Jair Bolsonaro será “para a destruição deles”.
Em seu discurso na tarde deste domingo, 25, antes da esperada fala de Bolsonaro, Malafaia apontou diversos questionamentos à atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos contra o presidente que, entre outras coisas, investiga a tentativa de um golpe de Estado. Ele também fez ataques a Luís Roberto Barroso, presidente da Corte. E afirmou que não teme ser preso, mas que vergonha seria “fugir” no momento do que chamou de “a maior perseguição política da história”.
“Toda essa engenharia do mal, toda essa maldade contra Bolsonaro, covarde, ao arrepio da lei e da Constituição… Presidente, você com Deus é maioria sempre. E eu vou dizer uma palavra que eu disse para você algumas vezes no telefone. Eu não desejo isso pra você, mas vou deixar aqui uma palavra: ‘Se eles te prenderem você vai sair de lá exaltado. Você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai ser pra sua destruição, mas para a destruição deles. Você vai sair de lá exaltado”, enfatizou.
Sobre Alexandre de Moraes, Silas Malafaia afirmou que ele “tem sangue nas mãos” em razão da morte de um dos presos pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro na Penitenciária da Papuda, completando que “ele vai dar conta a Deus”. Ele ainda criticou falas dos ministros do Supremo.
Repercussão entre governistas
Com o Palácio do Planalto em silêncio sobre o ato de Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 25, em São Paulo, coube à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, comentar a manifestação. A dirigente petista disse que o discurso do ex-presidente foi “típico de um farsante” e afirmou que ele terceirizou para o pastor Silas Malafaia os ataques que sempre fez ao Judiciário.
Bolsonaro convocou a manifestação depois de ter sido um dos alvos da operação Tempus Veritatis (hora da verdade, em latim) da Polícia Federal (PF), no último dia 8, quando teve que entregar seu passaporte às autoridades. A PF apura a participação do ex-presidente em uma articulação para dar um golpe de Estado que impediria a realização das eleições de 2022 ou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Não adianta amaciar discurso nem posar de vítima, o Brasil e o mundo conhecem o prontuário antidemocrático, ditatorial e fascista de Jair Bolsonaro. Continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia, ao estado de direito e à paz. O que Bolsonaro fez foi terceirizar para Malafaia os ataques que sempre fez à Justiça, às instituições e à verdade”, escreveu Gleisi, no X (antigo Twitter).
“O discurso de Bolsonaro foi típico de um farsante, do começo ao fim. Devia ter apresentado à Polícia Federal sua versão fabulosa sobre o decreto de golpe. Seria confrontado com as provas da conspiração, que previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários”, emendou a petista. Na visão da deputada, ao pedir anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente está mirando sua própria impunidade. “Com golpista não tem que ter complacência, a começar pelo chefe de todos eles.”
Após o ato deste domingo, aliados de Bolsonaro no Congresso tentam dissociar o ex-presidente dos ataques feitos por Malafaia a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Deputados e senadores de oposição ao governo Lula ressaltam que a maioria dos discursos no trio elétrico montado na Avenida Paulista foi em tom pacífico e dizem que Bolsonaro deu seu recado sem afrontar ninguém.
Um dos organizadores da manifestação, Malafaia afirmou que há uma “engenharia do mal” para prender Bolsonaro. No trio elétrico, em São Paulo, o religioso também criticou pessoalmente o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e o ministro da Corte Alexandre de Moraes. (AE)
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