Um bar. Um copo de cerveja pela metade. Toca Cartola. Um homem que aparentemente está no auge de seus 50 anos. Olha para o tudo-nada. Talvez por nostalgia. Talvez por erros. Talvez por uma mulher. Talvez por uma perda. Supostamente por solidão. Fossa. Só sai do transe para dizer: “desce mais uma gelada aí, seu Chico”. Ou quando passa Aquela Mulher.
O garçom, também conhecido como filho do dono, chega perto e ele declama: “Jovem, não desperdice sua juventude. Tudo que é demais, faz mal. Tudo. No auge, nunca enxergamos o que vai nos fazer desmoronar. Quando se sai da cegueira já é tarde. Já estará aqui, na mesa, descendo para além do que pode, lembrando do que podia fazer diferente. Cuidado, meu jovem. Cuidado!”
O jovem não liga. Segue e volta ao jogo no celular, torcendo para que nenhum pedido volte a interrompe-lo. Certamente não queria estar ali.
Toca Reginaldo Rossi. Ele ajeita o relógio. Desabotoa mais um botão da camisa. Enche o copo que nem estava seco. Mão no queixo. Respiração profunda. O olhar denuncia lembranças de algum período da vida que não deveria ter terminado.
As pessoas vêm, vão, param, gargalham, falam, tomam, seguem. Ele permanece em transe. Boceja. Olha as horas. Boceja de novo. Pede outra. Faz uma ligação. Não atendem.
Pede outras. Outra, outra e mais outras. Dorme. É acordado quase de manhã. Paga a conta e embarca no primeiro táxi.
Discussion about this post