Ao menos três mortos eram do Pará. Segundo a PM, todos atuavam no crime. Um deles, Eraldo de Noves Ribeiro, apontado como chefe de tráfico de entorpecentes no Pará.
Ao menos três paraenses estão entre as 22 pessoas mortas em uma operação policial ocorrida nesta terça-feira (24), na Vila Cruzeiro, comunidade na Zona Norte do Rio, e regiões próximas.
Segundo a polícia, das 22 vítimas, ao menos 12 eram suspeitas de integrar o tráfico de drogas. Uma das pessoas mortas era moradora da comunidade e foi atingida por bala perdida dentro de casa.
De acordo com a Polícia Militar do Rio de Janeiro, os paraenses mortos na operação são:
- Eraldo de Noves Ribeiro, apontado como chefe do tráfico na cidade de Moju, no nordeste do Estado. Ele estava foragido e teve a prisão preventiva decretada em março de 2016, pelo crime de roubo a banco, em Moju. Segundo a PM, foi morto em confronto.
- Adriano Henrique Rodrigues Xavier, de 17 anos. Segundo a polícia, ele integrava grupos de assaltantes, era conhecido como ‘Playboy’ e morreu em confronto.
- Marlon da Silva Costa, nascido em Abaetetuba, interior do Pará, 35 anos, conhecido como ‘Déo’. Segundo a PM do Pará, ele era condenado e estava foragido. Ainda segundo a PM, Marlon era “faccionário de alta periculosidade e, ocupava cargo de ‘Torre’, maior liderança no Comando Vermelho no Pará. De acordo com a polícia do RJ, Marlon morreu em confronto durante a operação.
O que a polícia foi fazer na Vila Cruzeiro?
Segundo a PM, a operação desta terça-feira (24) estava sendo planejada há meses. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com informações da Polícia Federal (PF), foram frustrar uma movimentação de traficantes do Comando Vermelho.
Dados da inteligência indicavam que haveria uma migração da Vila Cruzeiro para a Rocinha. Ambas as comunidades são dominadas pelo Comando Vermelho.
A PM afirma que a facção criminosa planejava reforçar as tropas na Rocinha. Na parte alta da Vila Cruzeiro, em uma área de mata, houve intenso confronto. Policiais apreenderam 13 fuzis, quatro pistolas, 12 granadas e uma quantidade grande de drogas, ainda não contabilizada. Dez carros e 20 motos foram recuperados.
Migração de bandidos
O secretário de Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, disse que a comunidade da Vila Cruzeiro, na Zona Norte, passou a receber mais criminosos de outros estados nos últimos anos. Entre os mortos na operação desta terça-feira (24) na região, e pelo menos 4 deles eram de do Norte do país – 3 do Pará e 1 do Amazonas.
Segundo ele, a migração se intensificou depois da decisão do Supremo Tribunal Federal de regular as ações em comunidades do Rio, desde 2020. As operações não estão proibidas, mas entre as obrigações legais para a realização de incursões está a necessidade de comunicação ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), com antecedência ou até 24 horas após a ação.
“Começamos a reparar a migração dessas lideranças de uns tempos pra cá. E isso foi acentuando após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Fazer daqui o esconderijo deles é fruto dessa decisão. Estamos estudando essa questão, mas tudo nos leva a crer que isso se deve à decisão que limitou a ação das polícias nas comunidades”, disse em entrevista coletiva.
O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Rômulo Silva, disse que “por essa expansão territorial dessas organizações criminosamente no país”.
Política de guerra
A PM afirma que fez a ação emergencial após detectar que haveria uma reunião da quadrilha na comunidade e por isso a decisão da operação.
Ainda de acordo com o porta-voz da PM, “a facção criminosa tem tido uma política expansionista de guerra e responsável por mais de 80% dos confrontos armados no estado”. Ivan Blaz destacou ainda que “esses criminosos tentem hospedar outros comparsas do Nordeste e Norte”.
— Estamos falando de uma facção criminosa que é responsável por mais de 80% dos confrontos armados do Rio. Essa facção que atua na Vila Cruzeiro, no Jacarezinho, no Chapadão e em Salgueiro (São Gonçalo), ela tem uma política expansionista, é uma ideologia de guerra: de enfrentamento e confronto. Não só contra as forças policiais, mas também contra as outras quadrilhas. Não bastasse isso, eles agora estão hospedando criminosos de outros estados, que daqui do Rio dão ordens para cometerem homicídios em outras regiões do Brasil. Então, desarticular essa quadrilha é fundamental e, logicamente, a vítima inocente morta no início da operação tira a ação altruísta que tínhamos.
Seis carros e 10 motos utilizados por traficantes durante operação militar foram abandonados na região conhecida como “Vacaria” e encontrados pelos militares. A localidade é a mesma que serviu como rota de fuga de bandidos em 2010, na ocasião da ocupação do Complexo do Alemão. Durante a ação desta terça-feira, foram apreendidos, até as 9h, diversos armamentos, sendo 13 fuzis e dez granadas, além de pistolas. De acordo com porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, essas armas vêm de outros países.
— Esse são fuzis produzidos na China e no Leste Europeu que vem para o país no tráfico internacional de armas. São armamentos longos que podem vitimar pessoas a longa distância, como aconteceu com a moradora.
Em nota divulgada na tarde desta terça-feira (24), o Ministério Público do Rio (MPRJ) afirmou que “a operação foi comunicada ao órgão com a justificativa da absoluta excepcionalidade, com intuito de coletar dados de inteligência sobre o deslocamento de aproximadamente 50 criminosos da Vila Cruzeiro, entre eles lideranças do Estado do Pará, para a Comunidade da Rocinha. Foi mencionada na justificativa a necessidade de reconhecimento da área para atualização de prontuário de localidade com vistas a futuras operações policiais”.
Ainda de acordo com o MPRJ, “durante esse levantamento, a equipe da Unidade de Operações Especiais foi reconhecida e atacada por diversos criminosos locais que portavam armas de grande valor cinético e efetuaram vários disparos de arma de fogo, tentando contra a vida dos policiais que compunham a patrulha, havendo assim a necessidade de iniciar uma operação emergencial com o objetivo de estabilização do terreno”.
Serviços básicos afetados
A operação policial na área do Complexo da Penha afetou o funcionamento de 19 escolas da região, que tiveram de fechar as portas, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação. As unidades estão prestando atendimento remoto aos alunos, segundo o órgão. A medida faz parte do protocolo de segurança da rede.
As unidades de saúde também têm impacto no atendimento devido à ação nesta manhã. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, as clínicas da família Felippe Cardoso, Klebel de Oliveira Rocha, Rodrigo Yamawaki Aguilar Roig, Zilda Arns e Valter Felisbino de Souza estão funcionando apenas com atividades internas, ou seja, as unidades mantêm o atendimento à população, mas sem as atividades externas realizadas no território. Fontes: G1 e Extra