Ana Paula Coimbra de Oliveira *
O brasileiro costuma se comportar como um povo muito solidário e receptivo. E, não raro, vemos notícias em que, diante de um desastre ou uma emergência, um bom número de pessoas se disponibiliza prontamente a auxiliar como podem, seja com as equipes de buscas, organizando doações, ou dando apoio a famílias.
Entretanto um importante fenômeno foi sentido nos últimos dois anos, especialmente no que diz respeito às doações. Iniciada oficialmente em março de 2020, a pandemia por covid-19 determinou circunstâncias que impactaram a vida das pessoas de diversas maneiras, incluindo aspectos psicológicos e econômicos. Infelizmente os efeitos da pandemia ainda estão sendo sentidos em todos os setores do país e têm impactos diretos na manutenção do funcionamento e das atividades das ONGs.
Levantamentos indicavam que, desde o início da pandemia até o primeiro semestre de 2021, houve um incremento nas ações solidárias e de doação no Brasil. Nesse período, segundo a Associação Brasileira de Captação de Recursos (ABCR), um valor superior a 7 bilhões de reais foi arrecadado em doações. Porém, o final do ano de 2021 marcou uma queda brusca nos valores e na quantidade de doações, principalmente de alimentos.
É inegável que o país enfrenta uma situação difícil no tocante à quantidade de indivíduos desempregados e ao aumento do índice de inflação, o que impôs dificuldades às pessoas em manterem seus orçamentos, deixando de lado suas doações. Esta discussão se faz relevante, principalmente em tempos de crise, para tomarmos consciência de que há famílias que dependem desse tipo de ação. E que a doação, mesmo que de um valor pequeno, de apenas um agasalho, de apenas um alimento, é um ato muito relevante, nem que seja para contagiar outras pessoas a fazerem o mesmo.
No calendário nacional, o dia de hoje, 19 de julho, é destinado a comemorar o Dia da Caridade. Acredito, no entanto, que o termo solidariedade possa ser usado, porque traz em si um maior significado de compartilhamento, sem a ideia de verticalidade, sem enxergar o outro como menos favorecido, mas considerando todos como semelhantes, como humanos.
(*) Ana Paula Weinfurter Lima Coimbra de Oliveira é farmacêutica, especialista em Citologia Clínica, mestre em Ciências Farmacêuticas e professora de pós-graduação no Centro Universitário Internacional Uninter.