Rezar pela Amazônia? Claro. Mas também temos que orar pelos hipócritas |
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Grotesca manipulação de informações, fake news, sandices ambientalistas e verdades que não podem ser escondidas debaixo do tapete oficial. Nos últimos dias, apareceu de tudo sobre as queimadas na Amazônia. Principalmente de gente, famosa ou anônima, que nunca botou os pés na região, mas se arvora ao direito de dar lição de moral sem compreender como as coisas acontecem por estas bandas esquecidas do Brasil.
Um Brasil amazônico, aliás, onde o colonizador, nacional e estrangeiro, grita mais alto e faz o que bem entende, enquanto o colonizado, apequenado e encolhido, pede desculpas por existir e atrapalhar grandes negócios que tornam a elite mundial mais rica, hipócrita e egoísta.
Tem sido patético ler e ver o grande alarido da mídia impressa e televisiva brasileira – notoriamente em crise de verbas oficiais e credibilidade pública – como também o catastrofismo cínico dos jornalões europeus, porta-vozes do capitalismo sem alma que vê nos países emergentes – ou subdesenvolvidos, como gostam de dizer os grandes pensadores da geopolítica do establishment – os maiores responsáveis por todos os males do mundo.
Nesse clima de histeria, é lógico, não poderiam faltar os legionários da estupidez que tomaram conta das redes sociais, distorcendo os fatos sobre as queimadas amazônicas, ora moldando-os ao discurso politicamente correto, ora buscando a sua desconstrução. Nos dois casos, a vítima nocauteada nesse ringue ideológico tem sido a sensatez
A novidade é que o mundo, finalmente, está acabando. Para felicidade daqueles que jogam mais combustível na floresta do caos, riscando alegremente o fósforo do desespero e torcendo para que tudo realmente acabe de uma vez por todas. E nem precisamos de profetas ou anticristos para isso, ainda bem.
O fim chegou num esplendoroso apocalipse amazônico de verão, quando os incêndios são comuns na região, em grau menor ou maior, de acordo com a omissão fiscalizatória do governo. E o governo tem errado muito na fiscalização, ou agido com descaso.
O desmatamento implica na queimada
Convenhamos, o estardalhaço que se faz agora esconde outras causas, abrigadas sob a cortina de fumaça (coincidência?) do ativismo ambiental de alguns que não sabem sequer estabelecer a diferença entre aquecimento global e microclima. Claro que não se pode negar que o desmatamento – para expansão do pasto e da agricultura – tem relação direta com as queimadas.
A própria Nasa diz que essas queimadas de 2019 são as maiores desde 2010. Assim como as de 2006 foram as maiores de dez anos anteriores. O problema é o exagero que se faz disso, até recorrendo a mentiras e postagem de fotos de incêndios de décadas atrás. A versão não pode ser mais importante do que os fatos.
Outra coisa: o mundo dito civilizado nunca deu a menor trela para quem vive na Amazônia. Na verdade, está se lixando para nós, amazônidas, ou nossos irmãos, nordestinos. Os povos que aqui habitam não passam, para esses europeus e americanos, de mera curiosidade antropogênica misturada com onças, sucuris, castanheiras, peixes, plantas e insetos exóticos.
Para esse outro mundo “superior”, onde vivem Emmanuel Macron e Angela Merkel, os barões da China, da Inglaterra, do Japão e dos Estados Unidos, o que interessa são os minérios, a soja, o gado e a biodiversidade – esta mais ligada à ciência e à poderosa indústria farmacêutica, sempre com suas novidades químicas que nos matam aos poucos. E aí, vale até bater as palmas da ignorância para idiotices do tipo “a Amazônia é o pulmão do mundo”, como afirmou o manda-chuva francês, Macron.
A esperteza dos canalhas
Há uma esperteza canalha dos líderes de países europeus que atacam o Brasil em razão das queimadas na Amazônia para camuflar a insatisfação ainda não digerida desde junho passado, quando após vinte anos de negociação, o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) e a União Europeia selaram um acordo de livre comércio entre os dois blocos.
Há muitos interesses nesse jogo, pois os dois blocos – o europeu e o latino – juntos representam um quarto, ou 25%, do PIB mundial, além de um mercado de 780 milhões de consumidores. A entrada do Brasil nesse bloco cobre temas tanto tarifários quanto de natureza regulatória, como serviços, compras governamentais, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias, além de propriedade intelectual.
Deu para entender? Há insatisfações na França, na Alemanha e Reino Unido entre produtores e agricultores – e nesses países os sindicatos são muito fortes e pesam de maneira decisiva até em eleições legislativas e presidenciais – com a competição dos produtos brasileiros, que entrariam no mercado em pé de igualdade.
Vejam, por exemplo, a conduta da presidente do sindicato dos agricultores franceses, Christiane Lambert. Ela é opositora radical ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Para ela, a importação da carne bovina brasileira será forte concorrente da produção francesa de carne, que é organizada em sistemas familiares.
Não foi à toa que Christiane assinou manifesto contra as queimadas na Amazônia, além de condenar o desmatamento na região, pedindo o cancelamento do acordo com o Mercosul.
O Exército entra no jogo, mas e depois?
O Exército brasileiro, de agora até o dia 24 de setembro próximo, começa a monitorar as queimadas, preveni-las e reprimi-las. É uma boa notícia. Pena que seja mero paliativo. O certo seria fortalecer o Ibama, contratar fiscais, ampliar as fiscalizações e o governos regionais oferecerem reforço policial nas operações, o que estranhamente não ocorreu este ano, pelo menos no caso do Pará.
Se pensasse mais no país e menos nas próprias idiossincrasias – às vezes confunde os dois e age no impulso -, Bolsonaro poderia tirar lições valiosas desse episódio em que foi colocado como vilão das queimadas por seus desafetos, inclusive os encastelados na imprensa. Três dessas lições: ouvir mais, fazer mais e falar menos.
Os brasileiros – e os amazônidas, por extensão – agradeceriam.
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