Quando eu era apenas umas criança, não entendia o porquê do meu pai fazer tanto drama por causa da morte do Cazuza. Ele nem o conhecia, só ouvia as músicas.
Quando fui uma criança quase adolescente, não entendia o porquê de os adolescentes quase adultos fazerem tanto drama por causa da morte do Renato Russo. Eles nem o conheciam, só ouviam as músicas. Tá certo que algumas músicas eram marcantes, mas não era pra tanto. Vi uma menina chorar. Eu ri dela, pensando: “só pode ser doida”.
Mas aí, quando eu estava nos primeiros anos da adolescência, soube da saída do Nando Reis, do Titãs. Fiquei indignado e por muitos anos não quis ouvir nada dele como protesto. Mas nada demais, pois depois me rendi ao talento solo do eterno Titãs.
Quando enfim fiquei adulto, num dia frio de março, uma moça com quem saía me toca o rosto, beija minha testa e diz: “fica calmo, eu sei que gostas muito dele, mas o Chorão se foi desse plano”. Eu fiquei chocado. Não era possível. Eu deixei de ir no último show deles em Belém com o pretexto de ” eles vão voltar “. Brinquei com o amanhã, foi fatal. A tal notícia até anestesiou todo tipo de pensamento pesado por conta da vida difícil que eu levava.
Nada mais importava. Fiquei irreconhecível. Nunca achei que ficaria mal por alguém que só ouvia as músicas, que nem conhecia pessoalmente. Fiquei. Mas também não foi ao ponto de sair falando pra todo mundo o quanto mal estava. Nada de “birra” como os fãs do Cazuza, Renato Russo ou Mamonas. Tranquilo. Do meu jeito. A vida seguiu.
Em 2015 uma amiga me conta com cuidado que o Eduardo Galeano se foi. Ele já era um senhor e falava de partidas com muita alegria e poesia. Isso me confortou. Mas lagrimei relendo “O filho dos dias”. Meu luto foi preenchido de poesia.
Três anos atrás um antigo amigo me envia um link sobre a morte do Chester, da banda Link Parl, mas como já inventaram tantas vezes sua morte, achei que era mais uma zoeira. Só acreditei mesmo quando uma moça que tomava café comigo me contou de relance. Me segurei. Até consegui esquecer por algumas horas (o papo estava bom, ufa). Cheguei em casa e vi que todos falavam disso. Fico sabendo do pior, que a morte veio através de suicídio.
Já temi muito que alguns amigos e amigas fizessem isso quando estavam na pior fase da depressão. Foi como se fosse um amigo. Mais profundo ainda: foi como se um período muito bom da minha vida fosse se despedindo. Músicas que tanto já foram meu remédio contra as dificuldades, que embalaram tantas vontades, sonhos, fases e desafios. Se o médico morre, como fica o paciente? Desolado.
Por tudo isso, a todos os fãs de pessoas como Cazuza, Airton Sena, Mamonas, Michael Jackson, James Brown, dentre outros, digo: eu os entendo. Minhas mais sinceras desculpas. O que seria da vida sem as trilhas sonoras que a marcam? Pouco.
Essa semana se foi mais um ídolo de muitos: o jornalista esportivo Rodrigo Rodrigues, o Rodrigão. Seu jeito bem humorado era sua marca nos canais por onde passou. Sua despedida causou um luto impressionante, pois sem dúvidas marcou quem, como eu, é um entusiasta fã de esporte.
Ver a dor de seus amigos e fãs, me fez lembrar do quanto é duro quando se vai um ídolo. Eles são muito mais que pessoas que admiramos, são uma parte fundamental da nossa história.
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