Educador criou premiação e constrangeu aluna. Turma de Geologia publicou carta de repúdio ao episódio ocorrido em sala de aula. Ele diz assumir responsabilidade pelo ‘ato impensado’ e afirma já ter pedido desculpas à estudante constrangida.
A Universidade de São Paulo (USP) afastou na última terça-feira (19) um professor titular do Instituto de Geociências após alunos o denunciarem por cometer assédio moral durante uma aula do primeiro ano do Bacharelado em Geologia.
O educador Joel Barbujiani Sigolo premiou com livros dois alunos que tiveram melhor desempenho na matéria de Geologia Geral. Na sequência, chamou uma estudante para a frente da sala de aula para entregá-la um “prêmio de pior aluna da turma”.
Os estudantes tiveram aula com o professor em 2023, mas os prêmios criados por ele foram entregues neste ano. O ocorrido revoltou os colegas da jovem, que divulgaram uma carta de repúdio ao episódio, apoiada por cinco centros acadêmicos da universidade.
Segundo consta no texto, durante seu primeiro semestre na faculdade, a estudante teve problemas de saúde que a levaram a perder aulas e provas. Na época, ela teria comunicado os professores sobre a questão e as faltas justificadas.
“Ainda que a referida aluna tivesse comparecido a todas as aulas, ou ainda, que fosse uma aluna com assiduidade e performance insatisfatórias por suas próprias decisões irresponsáveis, absolutamente nada justificaria ou autorizaria o docente a cometer o assédio moral acima relatado, em especial expondo a aluna a uma situação vexatória frente a seus colegas que a acompanharão por longos anos na universidade”, diz a carta.
Os colegas de curso relataram ainda que, ao importunar a jovem para que fosse à frente da sala, o docente dizia palavras desconexas em japonês, em aparente discriminação da aluna com ascendência nipônica.
“Os fatos narrados são tristes, desrespeitosos e aviltantes e não coadunam, de maneira alguma, com a filosofia da gestão recém iniciada”, afirmou o Instituto de Geociências por meio de nota. O professor foi afastado de forma preventiva até que a apuração do caso seja concluída. “Se confirmados os fatos, serão adotadas as sanções cabíveis ao caso”.
Procurado pelo g1 para comentar as acusações, Sigolo disse que aguarda o posicionamento de sua assessoria jurídica, “pois tal aspecto está fortemente distorcido”. Depois, em nota, afirmou que a atitude foi impensada, que assume a responsabilidade e gostaria de se desculpar com a vítima e sua família pelo episódio (veja a íntegra abaixo).
Joel Barbujiani Sigolo é formado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Se tornou mestre e doutor pela USP, onde passou a lecionar em 1989. Em 2005, passou em um concurso e se tornou professor titular da universidade. Depois de 14 anos, se aposentou, mas seguiu dando aulas como parte do quadro permissionário previsto no estatuto da USP.
De acordo com o portal de transparência da universidade, o salário líquido atual do professor é de R$ 26,2 mil.
O que diz o Código de Ética da USP?
Publicado em outubro de 2001, o material estabelece que “o respeito mútuo e a preservação da dignidade da pessoa humana” deve prevalecer entre todos os membros da universidade, incluindo professores e alunos.
No art.9º do documento, fica determinado que docentes não podem utilizar a posição hierárquica para desrespeitar ou discriminar subordinados, assim como “criar situações embaraçosas ou desencadear qualquer tipo de perseguição ou atentado à dignidade da pessoa humana”.
Nota do docente acusado
“Apresentei meu pedido desculpas pessoalmente à aluna e seus colegas de turma, bem como à direção da instituição, e estendo-o a todos os membros discentes e docentes do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, comunidade USP e sociedade civil. Compreendo que minha atitude impensada causou constrangimento, assumo a responsabilidade e peço desculpas publicamente a ela e sua família pelo ato e subsequente efeito não intencional à estudante.
Entendo a posição da instituição de afastamento das atividades de docência até a averiguação interna dos fatos e integrarei a aprendizagem relacionada ao episódio à minha prática docente, bem como às minhas relações pessoais e profissionais.”
Nota da Diretoria do Instituto de Geociências
Foi com consternação e pesar que recebemos uma nota de repúdio redigida por alunos do IGc e de outros institutos do baixo Matão.
A nota dá ciência de grave ocorrido em sala durante uma das aulas do primeiro ano do Bacharelado em Geologia. Os fatos narrados são tristes, desrespeitosos e aviltantes e não coadunam, de maneira alguma, com a filosofia da gestão recém iniciada.
Além das instâncias departamentais e da Comissão de Graduação, que costumeiramente acolhe relatos concernentes à prática docente, o IGc conta com uma Comissão de Direitos Humanos. Estes são os canais adequados para a protocolização, acolhimento e encaminhamento de denúncias de assédio e perseguição. Sentimos muito que o fato tenha sido trazido ao nosso conhecimento somente hoje.
Esclarecemos que o docente envolvido está aposentado, porém ativo via adesão ao quadro permissionário previsto no estatuto da USP. Ressaltamos que o docente será afastado de todas as atividades em sala de aula até que a situação seja melhor averiguada. Se confirmados os fatos, serão adotadas as sanções cabíveis ao caso à luz do que preconiza a jurisprudência universitária. Com informações do G1 SP.