Chegamos neste sábado ao 24º dia de guerra na Ucrânia e após quatro rodadas de negociações, ainda não se enxerga no horizonte o fim do conflito, que já afeta os brasileiros de modo perverso, através da disparada nos preços dos combustíveis promovida pela Petrobras, após a alta internacional do preço do barril de petróleo, que chegou a 139 dólares, um recorde em 14 anos. A Petrobras busca a paridade internacional de preços e mesmo tendo o governo federal como controlador, está presente nas bolsas internacionais e deve satisfações e principalmente lucros e dividendos aos seus acionistas espalhados pelo mundo.
Esta semana, preço do barril de petróleo caiu para menos de 100 dólares. No entanto, com a desculpa de que a defasagem é alta, a Petrobras nem fala em reduzir os preços. Infelizmente, a política de preços dolarizados da companhia (hoje em processo de recuperação após ter sido saqueada em governos anteriores) é absolutamente injusta com o consumidor brasileiro. O nosso país tem todas as condições de ser um grande produtor autônomo de combustíveis.
É claro que os lucros dos acionistas têm que ser considerados em uma companhia de capital aberto, mas em um momento excepcional como esse, de crise inflacionária, essa equivalência com os preços internacionais terá que ser revista, sob pena de se estar cometendo crime contra a economia popular. Para a Petrobras, quanto mais o preço sobe, mais ela lucra. O Governo Federal, ao contrário, precisaria tomar medidas para segurar a onda inflacionária que virá caso o conflito ainda se prolongue.
Além do petróleo e do gás natural, colocados na balança de sanções à Rússia, os dois países em confronto são também os maiores produtores mundiais de trigo, base de produtos que são muito consumidos pela pela população, como o pão e o macarrão. É desnecessário dizer que quando o combustível aumenta, há reajustes em cascata em toda a cadeia produtiva, principalmente, dos alimentos, que são trasportados por via rodoviária.
O ministro Paul Guedes já tem o aval do Congresso para a criação de uma conta de estabilização para os preços, para subsidiar a Petrobras com aportes do governo e amenizar o efeito inflacionário, com sacrifício para as contas públicas. Outra medida foi a criação do Auxílio Gasolina, com dúvidas se poderá ser implantado em ano eleitoral. Ainda será preciso conseguir espaço no Orçamento para essas despesas, causadas pela alta do petróleo.
O petroleo, aliás, foi de insumo essencial para movimentar máquinas de guerra, até se tornar a motivação principal de outras tantos conflitos mais recentes, é agora é usado por um lado e por outro da guerra atual como chantagem, com os Estados Unidos cortando as importações da Rússia, que ameaça deixar a Europa sem fornecimento de gás natural, em pleno inverno europeu. Infelizmente, as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia ainda não chegaram a termo, mas já houve avanços, como a indicação pela Ucrânia de que poderá desistir de ingressar na Otan.
Se uma lição pode ser tirada disso tudo é que já passou da hora da humanidade superar a dependência dos combustíveis fósseis e acelerar a sua substituição por fontes renováveis que tornem os países menos dependentes dessa fonte de gases causadores do efeito estufa, causa do aquecimento global. Essa teria que ser a grande meta das quase 200 nações que ratificaram o Acordo de Paris, firmado com o proposito de preservar o clima e as condições de vida de bilhões de pessoas no planeta. Em vez disso, no entanto, a humanidade gastou 2 trilhões de dólares em armamentos em 2020 e agora tem tudo para iniciar uma nova corrida armamentista. Só resta torcer para que a paz e o progresso prevaleçam.