Olha aí gente, olha os caras, todos mortos”. A frase, de espanto e horror, é de um dos pescadores da região de Bragança, nordeste do Pará, os primeiros a encontrar a embarcação com cerca de vinte corpos em estado de decomposição. Ainda não há qualquer informação sobre quem são os mortos, de onde vieram e como o barco onde foram seus corpos encontrados ficou à deriva no Oceano Atlântico por tempo que também não foi estimado.
É tudo ainda um grande mistério, mas sobram especulações. Uma delas diz que os mortos seriam imigrantes do Haiti que estariam entrando ilegalmente no Brasil, fugindo da fome e miséria extremas naquele país. Nada está confirmado. As autoridades do Pará ainda não conseguiram resgatar o barco com os corpos e a operação deve ser feita com traslado para o porto de Vila do Conde, em Barcarena, para a realização posterior das autópsias.
A perplexidade dos pescadores bragantinos durante o vídeo por eles gravado dentro do barco demonstra que momentos de extremo horror deve ter sido vivido pelas vítimas, provavelmente confrontadas em alto mar com sede, fome e desespero extremo.
“Olha, gente morta.Tudo pelado aí, gente. Olha o tanto de gente, olha. só, mano, olha. Todos mortos os caras, olha. Isso é doido, gente, é uma tristeza, olha. Olha aí os caras todos mortos aí, olha. Olha o tanto de gente aí, gente. É doido, pai do céu”, grita para os outro um dos pescadores.
Outro pescador aponta: ” Olha, tem até um peixe lá”, diz, mostrando um local da embarcação onde aparece um dos corpos. Um terceiro pescador, muito nervoso com o que vê, dispara: “Olha o tanto de gente dentro do biônico lá, moço. Mas se a gente não sair, sair é boneco, é boneco”, arremata.
Maré baixa, dificuldade
A embarcação com vítimas foi achada por pescadores na manhã de sábado (13), mas a maré baixa dificultou os trabalhos de resgate à tarde e à noite. Distante cerca de 20 quilômetros do porto mais próximo, o barco com os corpos estaria encalhado em um banco de areia, ficando acessível apenas quando a maré sobe.
O próprio trapiche do porto fica na margem de um rio que estava seco na tarde e noite de sábado, por conta da maré baixa. A embarcação com cerca de 15 metros de cumprimento por 2 de largura estava na Baía do Maiaú, próximo a ilha de Canelas, que fica no mar na região litorânea de Bragança.
MPF abre duas investigações
O Ministério Público Federal (MPF) no Pará decidiu abrir duas investigações sobre o encontro, no litoral do Pará, de embarcação com corpos em estado de decomposição. A decisão foi anunciada no início da tarde deste sábado (13), logo após a notícia ter sido divulgada pela imprensa do estado. Segundo algumas notícias, seriam 20 corpos.
O procurador-chefe do MPF no Pará, Felipe de Moura Palha, determinou a abertura de investigação na área criminal e de investigação na área cível, que será realizada pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF para a defesa de direitos humanos.
Uma investigação criminal foca em eventuais crimes cometidos e na responsabilização penal de autores. A investigação cível concentra-se em questões de interesse público e na proteção de direitos que não necessariamente envolvem crimes.
A Polícia Federal também vai entrar na investigação do caso.
VÍDEO