O Sindicato dos Jornalistas no Estado do Para (Sinjor) organizou um protesto, na manhã desta sexta-feira (27), na frente do prédio da Rede Brasil Amazônia de Comunicação (RBA), na Avenida Almirante Barroso, para mostrar à população a forma com que os jornalistas do estado são tratados pelas grandes empresas de comunicação da capital, que entre outras fontes de renda, faturam milhões de reais do governo do Estado, mas pagam salários miseráveis para seus funcionários.
O Sinjor informou que tem tentado há um ano negociar reajustes dignos para a categoria com os principais grupos de comunicação do Estado, mas não consegue. Há cinco anos sem reajuste, as perdas da categoria ultrapassam 26%. Por isso, o sindicato convocou todos os jornalistas para a manifestação, realizada na frente da empresa.
Na semana passada, o protesto foi feito na porta da TV Liberal, na Avenida Nazaré, mas a maioria dos profissionais de imprensa não aderiu, temendo retaliações, uma vez que enfrentam perseguições e ameaças de demissão dentro das redações. Mas o presidente do Sinjor, Vito Gemaque, disse que os jornalistas estão apoiando e demonstrando orgulho da luta por condições dignas de trabalho e da valorização da categoria.
“Os patrões são gananciosos, querem ganhar muito, estão enchendo os bolsos com verbas públicas, defendendo o governo do Estado, faturando milhões, mas não se importam com seus funcionários, que recebem salários miseráveis e indignos”, disse ao Ver-o-Fato um jornalista que não será identificado.
De acordo com o Sinjor, ao longo dos últimos anos, a realidade dos jornalistas no Pará ficou ainda mais difícil e precária com aumento de demandas com produção de conteúdo para redes sociais, juntamente com matérias, além da diminuição das frotas de carros de reportagem próprios para adoção de carros de aplicativos para as equipes de reportagens.
Grupo RBA faz imposições
No Grupo Diário do Pará/RBA, conforme o sindicato, é a mesma realidade, com condições cada vez mais precárias de trabalho, sem respeito e dignidade aos trabalhadores. O grupo não reajustava os salários há cinco anos. O Sinjor buscou a direção para elaborar um novo acordo coletivo.
Os jornalistas apresentaram uma lista com 32 pontos para negociação desde reposição salarial das perdas inflacionárias acumuladas desde 2017, como pagamento de retroativos, plano de saúde, pagamento de horas extras, pagamento de feriados, auxílio creche ou escola e outros.
Durante a negociação, explica o presidente do sindicato, os jornalistas aceitaram em assembleia geral diminuir o percentual de reposição de 14% para 12%. Entretanto, a última proposta da empresa aos trabalhadores em reunião com o diretor Camilo Centeno foi de reajuste de apenas 7% para os jornalistas do Diário e portal DOL, e 5% para os jornalistas da RBA, seguindo a proposta de reajuste do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado do Pará (Sertep).
As propostas do grupo ficaram abaixo da inflação do ano passado, que chegou a medir de maio de 2020 a abril de 2021 a 7,14%. O percentual não chegou à metade das perdas salariais da categoria até o ano passado, que ultrapassavam 14%.
“Os patrões ainda queriam mudar a data-base da categoria, que sempre foi em abril, para o mês de setembro. O intuito do grupo Diário/RBA era não pagar os retroativos que os trabalhadores sempre tiveram direito. Os trabalhadores deixariam assim de receber os retroativos pelos salários dos meses de abril, maio, junho, julho e agosto.
Com apenas essa proposta e sem avançar nos outros pontos apresentados pelo Sinjor, como regulamentação da ajuda de custo para jornalistas que se deslocam para reportagens, criação de uma carreira de jornalismo com progressão nas classes A, B e C com aumento de salário, ou inclusão do plano de saúde, os jornalistas decidiram em assembleia geral rejeitar a proposta do Diário/RBA”, afirma o sindicato.
Em reunião com a direção do grupo, o Sinjor foi informado de que essa seria a última proposta da empresa para os jornalistas, o que praticamente fechou as portas para avanços ou para discutir o restante das perdas salariais.
Diante do impasse e do tratamento desigual, que os patrões querem submeter os jornalistas, o sindicato procurou este ano a mediação do Ministério Público do Trabalho para que ajude na negociação.
Adiantamento e pressão
Segundo ainda o Sinjor, o adiantamento de 7% no salário dos jornalistas concedido pela empresa no final do ano passado foi utilizado como forma de tentar pressionar os trabalhadores para aceitar logo o acordo prejudicial. O reajuste também não foi concedido a todos os jornalistas do grupo, mas apenas aqueles com mais tempo de casa, reforçando o tratamento desigual dentro da empresa.
Somente de 2021 para 2022, a inflação no período alcançou 12,89%. Com a somatória dos anos 2018, 2019 e 2020, os jornalistas acumulam perdas de mais de 26% do salário. Os 7% propostos no ano passado estão muito abaixo da inflação inclusive deste ano.
“Essa é a prática tradicional dos veículos de comunicação do Pará: esperam acumular as perdas salariais ao longo dos anos, não reajustando os salários (o que poderia ser feito pelas próprias empresas). Os patrões esperam a defasagem salarial aumentar para depois pressionar o Sinjor e os trabalhadores a aceitarem migalhas dos seus bolsos milionários”, afirma o sindicato.