As investigações dão conta que foi no dia 05 de junho que aconteceu o duplo homicídio do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Com requintes de crueldade os dois tiveram a vida ceifada, mais histórias interrompidas daqueles que defendem o óbvio, o básico, que é: a defesa das florestas, dos povos originários, dos rios, da biodiversidade, dos direitos humanos, da Amazônia.
Esta floresta que mais uma vez bateu recorde de alerta de desmatamento no mês de junho agora, desde 2016, aumento de 5%, para se ter uma ideia o alerta compreende uma área do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já são três anos consecutivos de alerta de desmatamento, a situação piora a cada ano, e não há nenhuma política efetiva por parte do Ministério do Meio Ambiente, do governo federal para frear toda essa destruição, ao contrário, há estímulo.
E exonerar o Bruno do cargo de coordenador geral de indígenas isolados da FUNAI, foi parte desse estímulo, visto que o mesmo estava desenvolvendo um importante trabalho de combate aos grileiros, à pesca e o garimpo ilegal, à ação de madeireiras, invasão de terras indígenas e o tráfico de drogas na região.
Foi formada uma comissão externa de Deputadas e Deputados Federais para acompanhar de perto as investigações, que já esteve em Tabatinga/AM e Atalaia do Norte/AM ouvindo as lideranças e a Polícia Federal, e produziu um relatório que foi entregue à Procuradoria Geral da República (PGR), no documento pedem a saída do Presidente da FUNAI – Marcelo Augusto Xavier da Silva -, e entregaram uma lista com 14 nomes de pessoas ameaçadas no Vale do Javari, entre indígenas, indigenistas, servidores da FUNAI e integrantes da UNIVAJA.
A comissão externa é importante entre outras coisas para combater a narrativa de que não haveria um ou alguns mandantes do crime. O indigenista Bruno já estava sendo ameaçado, perseguido, assim como outros servidores, portanto não foi um crime sem uma política por trás, há pessoas poderosas, e a pesca ilegal de pirarucu é parte disso e não o todo. Nesse dia 07 de julho, em Tabatinga, uma pessoa conhecida como colômbia, foi espontaneamente, à sede da PF, visto que havia rumores sobre seu envolvimento como mandante, o mesmo nega mas foi detido por portar documentos falsos. O colômbia já estava sendo investigado pela pesca ilegal e por tráfico de drogas na região do Vale do Javari, mas ainda há nebulosidade nesse caso que envolve o duplo homicídio.
Em várias cidades, essa semana que marca o primeiro mês do assassinato, houve atos exigindo justiça, rigor e celeridade nas investigações. Bruno e Dom não podem simplesmente virar estatística, o Estado brasileiro é responsável por manter uma estrutura que criminaliza aqueles que lutam, que naturaliza o assassinato de tantos defensores das florestas e da Amazônia.
Vivemos sob um sistema que se mantém, a partir, da exploração e da opressão daquelas e daqueles que sustentam o Mundo, dos 99% da sociedade, e a destruição ambiental e dos povos originários é parte dessa engrenagem, combater essa poderosa estrutura tão bem encarnada no projeto de Bolsonaro, do chamado Centrão e da maioria do Senado, é pelo presente, pelo futuro, mas, sobretudo, pela honra da memória de tantos lutadores e lutadoras, como Bruno Pereira e Dom Phillips.
- Gizelle Freitas é Assistente Social e Mestra em Serviço Social pela UFPA. Especialista na Lei 10.639/03 que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Militante feminista antirracista.