Está aberta a temporada das convenções partidárias para confirmação das candidaturas, onde os partidos políticos se reúnem para escolher seus candidatos e candidatas ou outros que apoiarão.
O PT e a federação partidária Brasil da Esperança, que agrega também o PCdoB e o PV, oficializou a candidatura de Lula à presidência no dia 21 deste mês. Sem a presença do candidato que estava em agenda no Estado de Pernambuco, as falas tiveram o tom de defesa da democracia e de eleições livres, contra o autoritarismo, sem nenhum tipo de interferência visto a comprovada lisura das urnas eletrônicas. Já a convenção do PL aconteceu no último dia 24 onde foi oficializada a reeleição de Bolsonaro tendo como vice o general Braga Netto.
Quem acompanhou pelas redes ou sites da imprensa alternativa verificou de imediato a diferença da narrativa construída em ambos. O atual presidente e candidato á reeleição, mais uma vez, se debruçou numa fala de tom golpista, com ataques às urnas eletrônicas, que, diga-se de passagem, jamais foi questionada por este em todos os pleitos em que ele próprio e os filhos se elegeram.
Convocou o povo a ocupar as ruas pela última vez no dia 07 de setembro, mas também foi uma fala de tom capacitista ao chamar os ministros do STJ de “surdos de capa preta”. Além, de exaltar o presidente da Câmara Federal de Deputados, o Arthur Lira, grande aliado de Bolsonaro, inclusive, no recebimento de recursos do orçamento secreto e no engavetamento dos inúmeros pedidos de impeachment, mas a presença de Lira no palco também reafirma o acordo do chamado Centrão com o atual presidente da república.
A ocupação das ruas em luta é uma conquista da classe trabalhadora, nenhum direito veio de graça, independente do governo, mas Bolsonaro em discurso enfrenta os 55% dos brasileiros e brasileiras que reprovam seu governo, segundo pesquisa do PoderData. O povo brasileiro voltará às ruas nos dias 11 de agosto e 10 de setembro, contra os ataques à democracia e por eleições livres, datas definidas pela campanha nacional fora Bolsonaro.
Mas tem outro elemento interessante pra análise: a entrada de Michele Bolsonaro na campanha. Esta abriu a convenção com uma fala de cunho religioso e apelando às mulheres. De acordo, com a última pesquisa do PoderData o segmento feminino rejeita o atual governo, muito fácil desconstruir o discurso quando ela ressaltou, calorosamente, que é mentira que o marido não gosta de mulheres.
Quem não lembra quando ele disse que deu uma fraquejada e veio uma filha mulher após ter quatro homens? Quando ele defendeu que as mulheres têm muitos direitos, como o auxílio maternidade, portanto, deveria receber menos que os homens? Quando ele disse que a deputada federal Maria do Rosário era tão feia, que não merecia nem ser estuprada? Quando xingou inúmeras vezes jornalistas mulheres? Enfim, os exemplos são muitos e nem caberia num simples texto.
Essa tática de aproximar as eleitoras, mas também de fazer aprovar a PEC do estelionato eleitoral, com benefícios sociais que valerão somente até dezembro deste ano, são exemplos do mau-caratismo desse homem, não nos deixaremos enganar e, nós mulheres, seremos parte ativa da virada de jogo para derrotar Bolsonaro nas urnas e o bolsonarismo nas ruas.
* Gizelle Freitas é Assistente Social e Mestra em Serviço Social pela UFPA. Especialista na Lei 10.639/03 que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Militante feminista antirracista.