Na quarta-feira, dia 22, a Polícia Federal expediu um mandado de prisão preventiva contra o ex-Ministro da Educação Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
O atual presidente da República se elegeu, entre outras coisas, tendo como carro chefe o combate à corrupção. Contudo, já são alguns escândalos envolvendo o governo. O ex-ministro e lobistas evangélicos operavam um verdadeiro gabinete paralelo dentro do Ministério da Educação (MEC), que favorecia aliados de Jair Bolsonaro em troca de apoio político usando para tal verba do Fundo de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Denominado de bolsolão este é o maior escândalo de corrupção envolvendo o atual governo. Milton Ribeiro já é acusado por tráfico de influência e improbidade administrativa.
O mais curioso é que os pastores citados acima, amigos do campo pessoal do Jair, não exerciam cargos na estrutura do MEC ou do governo, porém tinham circulação livre no gabinete do ex-ministro e no Planalto como um todo, desempenhando o papel de lobbystas com recurso público. O MEC foi transformado em balcão de negócios, enquanto, o governo anunciou no final de maio mais um bloqueio no orçamento da educação e da ciência e tecnologias públicas.
Um corte de 14,5% que já está afetando diversas áreas das Instituições de Ensino Superior. Em reais, esse corte representa R$ 1 bilhão num orçamento que vem de forma recorrente sofrendo ataque por parte de um governo que, dia após dia, comprova que educação pública e de qualidade, bem como valorização de seus profissionais, nem de longe é prioridade.
Vale negritar que a maioria da Câmara de Deputados é conivente com todo esse desmonte da educação, com existência de “gabinetes paralelos”, e o mais escandaloso, a existência de um orçamento secreto que aglutina verbas retiradas das áreas sociais para favorecer os pares do Bolsonaro, como vultosas rubricas destinadas ao Ministério da Defesa, privilegiando militares.
O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP-AL), já destinou, em dois anos, cerca de R$ 357 milhões em emendas parlamentares, e pasmem, fundos vindos do orçamento secreto. Logo, desde 2018 nesse país há o aprofundamento, como jamais visto na história, da institucionalização do desvio de recurso público para fins de interesse político pessoal, tendo a maioria da Câmara Federal e do Senado Federal como aliados dessa rede de corrupção. Enquanto, a população brasileira assiste as escabrosas notícias em rede nacional como se tudo fosse muito natural, num país com 33 milhões de pessoas passando fome.
Infelizmente, a maioria da população acreditou na fake news de que Bolsonaro iria combater a corrupção, vejam algumas denúncias desde o início do governo:
– Em 2019, o então ministro de Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, é denunciado por desvio de recurso de candidatura feminina na eleição de 2018.
– Em abril de 2021, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é acusado de dificultar ação de fiscalização ambiental.
– Em maio de 2021, a criação do esquema de favorecimento político chamado orçamento secreto, parceria entre chefe do Executivo e do Congresso.
– Também em maio de 2021, a demissão do coronel do Exército, George Divério, do cargo de Superintendente Estadual do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro, devido a uma suspeita de corrupção.
– Em junho 2021, o escândalo da Covaxin, a compra da vacina indiana por um valor 1000% maior que o já anunciado pela própria fabricante.
– Ainda em junho de 2021, a denúncia contra o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. Foi acusado de pedir propina para autorizar a compra de vacinas pelo governo.
– Março de 2022, a descoberta do bolsolão, objeto deste artigo.
– Abril de 2022, o escândalo dos ônibus escolares que revelou licitação bilionária envolvendo verbas do FNDE. A denúncia demonstrou que o governo pagaria até R$ 480 mil por um ônibus, enquanto o setor técnico revelou que o preço seria de no máximo, R$ 270,6 mil.
– Em maio de 2021, além de ônibus escolar teve o esquema envolvendo caminhão de lixo. Esse caso é bem esdrúxulo também, carros iguais comprados com uma diferença de até R$ 114 mil. Foi a falta de critérios para destinação dos caminhões de lixo que levantou a suspeita. Quer dizer, há critérios enquadrados no esquema de favorecimento político. Cidades onde prefeitos, governadores, senadores e deputados fazem parte da rede de corrupção do presidente Bolsonaro foram “agraciados” com contratos milionários.
No momento do fechamento deste texto há novas informações sobre o escândalo do MEC. Há uma gravação obtida pelo Ministério Público Federal que embasou o pedido de envio da investigação de Milton Ribeiro para o Supremo Tribunal Federal. A ligação telefônica entre o ex-ministro e uma filha revela uma suspeita de interferência de Bolsonaro às investigações.
Bem, parece que o governo Bolsonaro e seus aliados estão enfiados até o pescoço em denúncias de corrupção. O cerco está se fechando!
- Gizelle Freitas é Assistente Social e Mestra em Serviço Social pela UFPA. Especialista na Lei 10.639/03 que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. Militante feminista antirracista. Para saber mais sigam minhas redes sociais.