O recente comentário do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), de que Belém seria a 7ª cidade – anteriormente, o próprio governador falou que era a 5ª – mais segura para se viver, vem gerando grande controvérsia e intensos debates nas redes sociais. Em resposta a um internauta, o perfil oficial do governador reafirmou essa classificação, mas muitos moradores questionam a veracidade dessa afirmação, citando um sentimento crescente de insegurança.
Em contraste com a mensagem de estabilidade, a população da Grande Belém convive diariamente com o avanço de facções criminosas e com a vulnerabilidade de agentes de segurança pública, frequentemente alvos de atentados. Belém e região metropolitana enfrentam uma crise de segurança que vai além das estatísticas oficiais.
Nas periferias, facções dominam várias comunidades, impondo suas próprias regras e gerando uma sensação de medo constante. De acordo com moradores, qualquer desobediência às normas impostas pelos grupos criminosos pode resultar em consequências graves, o que torna a vida cotidiana um verdadeiro desafio para aqueles que vivem nesses bairros.
A ausência de segurança afeta diretamente o cotidiano das pessoas, criando um ambiente onde o Estado parece cada vez menos presente.
Nos últimos dias, casos de violência contra agentes de segurança aumentaram de forma alarmante. Dados do instituto Fogo Cruzado mostram que nos primeiros seis dias de novembro, seis agentes foram baleados na região metropolitana de Belém, dos quais quatro vieram a óbito e dois ficaram feridos. A crise reflete a grave tensão entre o aparato de segurança pública e as facções criminosas locais, que vêm ampliando sua atuação nas áreas mais vulneráveis da cidade.
Segundo o levantamento, ao longo de 2024, 36 agentes de segurança foram alvejados na região, com um total de 24 mortos. A maioria das vítimas pertence à Polícia Militar, mas também há casos entre policiais civis, guardas municipais e até membros das Forças Armadas. O levantamento do Fogo Cruzado chama atenção para o fato de que grande parte dos agentes vitimados estava fora de serviço ou na reserva, indicando uma violência que ultrapassa as barreiras do horário de trabalho e atinge esses profissionais até mesmo em sua vida pessoal.
A diferença entre os dados oficiais e o sentimento de insegurança da população também pode ser explicada pela subnotificação de crimes. De acordo com comentários em redes sociais, muitos moradores optam por não registrar boletins de ocorrência, o que limita a contagem real de crimes. “Muitos desistem de fazer o BO, e o governo se aproveita disso para manter as estatísticas baixas”, criticou um internauta. Esse fenômeno contribui para uma discrepância entre a realidade vivida pelos cidadãos e os dados apresentados oficialmente.
Um exemplo disso são os crimes que ocorrem em áreas de difícil acesso ou aqueles cuja gravidade impede as vítimas de buscarem ajuda nas autoridades. Em relatos, moradores de regiões periféricas mencionaram a sensação de abandono do Estado, onde a presença das facções acaba sendo mais frequente e intimidante do que a das forças de segurança pública.
Postura do governador não ajuda
Para muitos críticos, o posicionamento do governo estadual em reforçar a ideia de uma cidade segura não ajuda a resolver o problema, e pode até agravar a situação. “Adotar uma postura negacionista sobre a crise da segurança pública é um erro grave”, afirmou um analista de segurança local. Segundo essa visão, reconhecer a realidade e explicar as medidas que estão sendo tomadas para resolver a questão seria uma resposta mais transparente e tranquilizadora para a população.
A insegurança em Belém se agrava com o número crescente de ataques a policiais, levando a população a sentir que a cidade se torna cada vez mais refém de facções. A cobrança pública por uma posição efetiva das autoridades cresce, com muitos pedindo por estratégias de combate que se mostrem eficazes, enquanto os moradores das periferias esperam ações concretas para que possam viver com mais tranquilidade.
A divergência entre os dados apresentados pelo governo e a realidade vivida pela população de Belém aponta para uma crise de segurança pública que exige atenção urgente. Para que a cidade possa realmente se tornar mais segura, como sugere o discurso oficial, é fundamental que as autoridades reconheçam a gravidade da situação, apoiem seus agentes de segurança e restabeleçam a confiança da população nas forças de segurança locais.