Brasília, a capital brasileira, foi palco ontem à noite, 13, de um episódio aterrador e surpreendente que chocou autoridades e cidadãos. Francisco Wanderley Luiz, conhecido como “Tiu França”, de 59 anos, protagonizou um trágico ato na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ele explodiu o próprio carro, provocando uma segunda explosão em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) e outra no estacionamento da Câmara dos Deputados.
O evento, que deixou marcas profundas na segurança da capital, resultou na morte do próprio Luiz, com sua identidade confirmada pela Polícia Federal por meio de reconhecimento visual.
Descrito como um “lobo solitário”, Luiz estava, segundo conhecidos, mentalmente abalado. Com uma trajetória marcada por altos e baixos, ele já havia se aventurado na política ao se candidatar a vereador pelo Partido Liberal (PL) em 2020, na cidade de Rio do Sul, Santa Catarina, mas obteve apenas 98 votos e não conseguiu ser eleito.
Na época, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 263 mil, incluindo veículos e um prédio residencial. Recentemente, residia em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, onde as autoridades encontraram sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
De acordo com testemunhas, Luiz utilizava uma carretinha, a mesma que foi localizada pela polícia no estacionamento do STF, perto do veículo que ele detonou. O impacto das explosões na segurança das instituições da República gerou apreensão entre as autoridades, que ainda buscam entender as motivações exatas por trás do ato, embora evidências sugiram uma mente perturbada.
O deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC), um conhecido de longa data de Luiz, expressou sua surpresa e tristeza ao falar sobre o ocorrido. “Conheço o França e sua família desde a juventude, lá em Rio do Sul. Ele era um amigo querido, um empreendedor de sucesso, antenado e visionário. Dominou o cenário das noites da nossa cidade por muito tempo,” relatou Goetten em entrevista à CNN.
Separação e desequilíbrio mental
Contudo, a vida de Luiz mudou radicalmente após a separação de sua esposa, um evento que, segundo Goetten, pareceu desencadear um desequilíbrio mental. O parlamentar se encontrou com Luiz pela última vez em 2023, em Brasília, e descreveu o antigo amigo como “alterado, emocionalmente abalado”. “Não era mais aquele amigo que eu conhecia. A separação o afetou profundamente,” revelou o deputado, sugerindo que essa transformação pode ter contribuído para o desfecho trágico.
A morte de Francisco Wanderley Luiz, embora solitária, deixou um impacto retumbante no coração da República e trouxe reflexões urgentes sobre a segurança nas sedes dos Três Poderes. Autoridades agora trabalham para avaliar possíveis falhas e compreender os detalhes do caso que agitou Brasília.
Vestido para morrer
Francisco Wanderley Luiz, o homem-bomba que morreu na Praça dos Três Poderes, vestia um paletó verde com símbolos de naipes do baralho. As explosões destruíram a parte de trás da cabeça dele e a mão direita. Havia uma mochila perto de seu corpo, que ficou estendido em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma hora antes das explosões, Francisco fez uma publicação nas redes sociais com ataques ao STF, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “Deixaram a raposa entrar no galinheiro”, escreveu ele ao postar foto no STF.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso e, como mostrou o Estadão, há suspeita de que o atentado tenha motivação política. O carro de Francisco também foi incendiado. Em 2020, ele se candidatou a vereador de Rio do Sul (SC), com o apelido de Tiü França, mas não foi eleito.
Bolsonaro: homem era “maluco”
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou o homem que morreu após explosões na Praça dos Três Poderes de “maluco” e afirmou não ter “a menor ideia” sobre quem era Francisco Wanderley Luiz, catarinense de 59 anos, proprietário do carro encontrado com explosivos no estacionamento da Câmara dos Deputados.
Ao portal Metrópoles, o ex-presidente sugeriu que Francisco Luiz possa ter “deixado algo escrito ou gravado” sobre uma eventual pretensão terrorista. A Polícia Federal investiga se o incidente teve motivação política. Nas redes sociais, Francisco utilizava o apelido de “Tiü França” e se demonstrava adepto de teorias da conspiração.
Horas antes de morrer, fez publicações que indicavam pretensões terroristas, além de criticar os líderes dos Três Poderes. “Pai, Tio França não é terrorista, né? (…) Ele apenas soltou uns foguetinhos para comemorar o dia 13″, diz um texto publicado pelo homem morto, fazendo referência à data desta terça-feira.
Depoimento de testemunha
Depoimento de um segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) relata como Francisco Wanderley Luiz, o catarinense de 59 anos, tentou invadir a Corte carregando bombas e acabou por se matar na frente do prédio público. Natanael da Silva Camelo foi ouvido pela Polícia Civil do Distrito Federal nesta quarta-feira, 13, e revelou ter sido a última pessoa abordar o homem antes da explosão fatal.
O boletim de ocorrência da Polícia Civil traz o nome de Francisco Luiz, o identifica como ex-candidato e aponta que mensagens postadas por ele com cunho político podem ser a motivação para o ato violento. Segundo o registro policial, explosões na Praça dos Três Poderes ocorreram por volta das 19h30. O caso também está sendo investigado pela Polícia Federal.
“Diligências preliminares foram realizadas, e, assim, identificou-se que o veículo, um KIA/SHUMA SL, cor bege, de placa MBD-5C76, em nome de Francisco Wanderley Luiz, teria explodido em via pública próxima a um dos anexos do STF. Outros dados a respeito da vítima foram obtidos, tendo sido possível identificar uma possível motivação, tendo em vista o conteúdo político de postagens no perfil de Francisco em suas redes sociais”, diz o BO da delegacia.
O registro policial aponta ainda que Francisco Luiz postou mensagens com “conteúdo que antecipavam o ocorrido no dia de hoje (quarta-feira,13), manifestando previamente a intenção do autor em praticar o autoextermínio e o atentado a bomba contra pessoas e instituições”.
As explosões e o encontro
O segurança do Supremo relatou ter ouvido cerca de duas explosões vindas do estacionamento da Câmara dos Deputados. Logo a seguir viu um homem vindo em direção à estátua da Justiça, que fica na frente do prédio do STF. “O indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua”.
Segundo relato do segurança do STF, Francisco Luiz, cuja identidade que só foi confirmada mais tarde pela polícia, retirou da mochila “alguns artefatos”. Com a aproximação dos seguranças do STF, ele abriu a camisa os advertiu para não se aproximarem. Natanael disse que por ver um objeto semelhante a um relógio digital e o segurança considerou que poderia ser uma bomba. “(Francisco Luiz) pegou um extintor, desistiu e o colocou no chão. Saiu com os artefatos para a lateral e lançou dois ou três artefatos, que estouraram.
A morte de Francisco Luiz
O segurança disse que estava sozinho quando se aproximou do homem e ao ver os artefatos solicitou apoio de imediato. Natanael relatou que as explosões aconteceram em momentos bem próximos, “mas que em relação ao carro ouviu apenas o barulho e não visualizou detalhes”. Segundo o relato do segurança, depois de tentar explodir dois artefatos, Francisco Luiz se deitou no chão. “(Ele) acendeu o último artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”. Natanael disse saber que, após a morte de Francisco Luiz, ainda pode ver que havia “algo” atado a seu corpo, mas não soube precisar o que era. Também não soube informar se outras pessoas participaram da tentativa de explodir bombas no local.
As diligências da Polícia Civil
Investigadores da Polícia Civil foram até a cidade de Ceilândia, na periferia de Brasília, onde Francisco Luiz teria alugado uma casa. No endereço da busca, foram informados por vizinhos que o homem tinha de fato passado por ali e que, além do carro, tinha um pequeno reboque também. Esse reboque foi encontrado próximo ao carro que estava na Praça dos Três Poderes. Com informações do jornal O Estado de São Paulo