A morte com tiro no peito, ontem à noite, do indígena Isac Thenetehara, filho de um cacique da aldeia Jacaré, em uma fazenda que faz fronteira com a Terra Indígena Alto Rio Guamá, dos Tembé, está provocando polêmica e acusação de que o rapaz teria sido morto por homens da Polícia Militar.
Isac estaria caçando juntamente com outros indígenas quando foi morto. Amigos e familiares questionam a versão da polícia de que a morte teria ocorrido após confronto no local. Além disso, argumentam ausência de perícia no local e dizem que o corpo foi removido para uma funerária da cidade de Capitão Poço sem que a família soubesse do que teria acontecido.
Segundo os indígenas, policiais militares envolvidos na morte ficaram trancados durante a noite na delegacia de Capitão Poço e já no começa desta manhã de sábado teriam fugido da cidade, temendo reação dos índios. O clima na aldeia é de revolta.
A agitação também acontece nas redes sociais, com as postagens de indignação de amigos e familiares de Isac, cobrando providências do poder público e esclarecimentos sobre a morte do jovem.
“Um tiro certeiro no peito e, provavelmente, de perto. A polícia alega confronto. Como? Com um tiro no peito de perto? E qual motivo para a polícia matar um jovem que caçava junto com outros jovens nas terras que no passado era tudo terra indígena?
“A polícia não fala nada e sua procedência é muito duvidosa. Cadê a Polícia Federal que não foi chamada pela Polícia Civil, já que se trata de indígena e território indígena? Cadê o Ministério Público Federal Por que o corpo foi removido sem perícia? Por que o corpo foi para a funerária e não para o Instituto Médico Legal?”, indagam familiares.
“Estou muito revoltada com isso, Isac era um menino com futuro e guerreiro do seu povo, não dá pra aceitar a impunidade e a crueldade desse mundo! Compartilha gente!”, postou uma amiga do morto.
O Ministério Público Federal (MPF), que mantém processos judiciais a favor dos indígenas e de desocupação das terras invadidas há décadas por fazendeiros e madeireiros, diz em nota divulgada ter sido informado do fato no final da manhã deste sábado (13) e, por meio da unidade da instituição em Paragominas, abriu procedimento para cobrar a investigação do caso e acompanhá-la.
Informa ainda o MPF que expediu ofícios com solicitações urgentes de providências e de informações às Polícias Federal, Militar e Civil, e à Fundação Nacional do Índio (Funai). O Ver-o-Fato pediu manifestação da PM e aguarda resposta. A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos pediu urgente investigação sobre o crime.
Atualização às 16:36h
Nota da Polícia Militar do Pará enviada ao Ver-o-Fato:
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informa que Policiais Militares foram acionados para averiguar um suposto furto de gado em uma fazenda no município de Capitão Poço, localizado no nordeste do Estado, na noite desta sexta-feira (12), em uma área escura e de difícil acesso. Ao chegar ao local, foram surpreendidos por disparos de arma de fogo, sendo necessário agir em legítima defesa. O grupo fugiu da área. No local foi encontrado um gado desossado e um revólver calibre 38 ao lado de uma pessoa que havia sido alvejada. A equipe conduziu o homem até uma unidade de saúde, que não resistiu ao ferimento e evoluiu a óbito. Se tratava do indígena Isak Tembé. A Polícia Civil investiga o caso.
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