No passado, os grupos humanos se caracterizavam como nômades, ou seja, não se fixavam à terra em função de sua prática de caça e coleta de alimentos. Porém, quando conseguiram controlar técnicas agrícolas de produção de alimentos e de criação de animais, eles se fixaram à terra dando início ao que poderíamos chamar de embriões das cidades.
Nesse sentido, é possível pensar que um dia, pela primeira vez, um ser humano cercou uma porção do espaço de terra e proclamou: “essa área é minha!” Dando início ao primeiro território.
Essa ideia de cercar, mesmo que simbolicamente, guardando uma territorialização, é bastante visível no cotidiano de Belém e em alguns casos chega a ser inusitado. Por exemplo, existe na cidade o ponto de ônibus imaginário, pois não tem placa, banco, bombonzeiro ou qualquer indicação de que ali seja uma parada obrigatória dos coletivos.
Simplesmente alguém chegou ali e disse que seria assim, sendo por todo o sempre. Se o motorista passa dali, coitado, é escorraçado. Na Av. Augusto Montenegro há várias dessas. Quem decidiu? O povo.
Alguns pontos de moto-táxi também obedecem a mesma lógica. Algum esperto chegou lá e determinou que ali seria um ponto, mas não é só isso, ele também determinou quantas vagas existem naquele seu território. Se você quiser pegar sua moto e fazer viagens, deve pagar um aluguel ou mesmo comprar para ter a vaga em definitivo, sendo toda transação realizada no “boca-a-boca”. Isso já deu até em morte.
Tem também os taxistas dos shoppings que implicam com os motoristas de aplicativo que vão ao local buscar passageiros. Rola disputa por pontos de prostituição em ruas soturnas da Pedreira.
Os flanelinhas também se digladiam pelos melhores espaços para guardar carro. As pessoas que vendem nos ônibus, subindo pela porta traseira, disputam território com os artistas, pedintes e enganadores. A briga é ferrenha pra ver quem sobe primeiro.
Enfim, no passado já foram as gangues, hoje de múltiplas outras formas. A territorialização é milenar e faz parte de uma cidade viva e pulsante como a nossa. A cada instante um território é conquistado ou perdido. Da escala de um simples lugar no busão até a detenção de grandes lotes de terra.
Nunca pára.
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