O tempo parece que passa com preguiça. Não há tanto barulho ou gente com feição de muito estresse. As pessoas te dão bom dia ou puxam conversa sem mesmo te conhecer. Tem tudo que uma cidade paraense requer: a igreja, as elites políticas de muitas posses, o campo de futebol e as praças.
Estas últimas, funcionam como os shoppings em Belém, pois além da sensação de segurança – mesmo sem guardas a cada 20 metros -, são os lugares de encontro, do lanche, da fofoca, do desfile ou simplesmente onde se faz vários nadas. Ainda contam histórias de visagens.
Uma senhora me contou que sua irmã entrou em depressão depois que viu, na beira do rio, um negão totalmente nu. Seu charme teria feito com que se apaixonasse, mas ele sumiu, deixando a pobre irmã na mais aguda melancolia. Seria o boto? Me questionou. Mas verdade verdadeira é a mulher que vira porco…ela tem até marca de terçado nas costas, obra de um caçador que buscava seu almoço.
Falar em almoço, tem quem coma passarinho com farinha. A arapuca é posta no mato no começo do dia, no fim da tarde é averiguado se houve êxito para janta ter um gostinho especial, isto é, quando a Matinta Pereira ou Curupira, não se sabe ao certo, não coloca as armadilhas penduradas nos mais altos galhos para que nenhum ser vivo seja capturado. É desafiador. Tem que ter fé. Inclusive, não se machucar sério, pois nem todo remédio pode ser encontrado na floresta.
Os médicos trabalham apenas pelo dia de semana e muitas vezes nem chegam. Uma ambulância para três municípios, com o agravo da retirada dos elogiados médicos cubanos. Que inovação eles trouxeram para merecer tanto elogio? Olham nos olhos, conversam e ouvem, diz a mesma senhora das histórias da Matinta. Nem todos foram embora, alguns ficaram. Usaram a estratégia de casar, mesmo que arranjado, com um brasileiro ou brasileira. Só assim não voltariam para Cuba e receberiam um salário integral.
Na orla a vida passa sem muito alarde, com um vento carinhoso. A cidade recebe o rio, de frente, de braços abertos. Muita moto, pouco trânsito, feira grande, frutas baratas, peixe no ponto. Jeito simples, miscigenação e muita humildade.
Interior.
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