Uma informação publicada na última quinta-feira, 30, pelo colunista Mauro Bonna, no jornal Diário do Pará, deixou muita gente confusa e alguns de cabelo em pé. Segundo o colunista, o empresário Jorge Rebelo, titular do Vila Galé, o maior grupo hoteleiro de Portugal e um dos maiores do Brasil,” estará em Belém na próxima quinta (6) para assinar, com Helder, o contrato de cessão por 33 anos da área do Porto Futuro, onde será construído um hotel boutique”.
A coluna de Bonna adianta que o grupo português “vai remunerar o Estado com 2% do faturamento do empreendimento”.
“O hotel boutique da rede Vila Galé, em Belém, deverá estar pronto e operando para a COP30. Com 143 apartamentos, na cara do gol, ocupará três antigos armazéns do porto, exatamente o 8, 8A e 8B. Projeto concluído, a própria equipe do grupo tocará a obra.”
Um grande hotel às margens da Baía de Guajará? Em área da União, cedida ao Estado pela Companhia Docas do Pará (CDP) em 2016 – pelo então presidente da Companhia, Parsifal Pontes, ex-todo poderoso no governo de Helder e preso com a mão na massa com dinheiro da pandemia para combater a Covid-19?
O “furo” jornalístico de Bonna, segundo observadores, não passou batido no Grupo RBA e com certeza foi autorizado plos Barbalho, donos do grupo de comunicação. Bonna, como se sabe, costuma emitir sinais em sua coluna sobre finanças e negócios, para depois abrir a porteira e a boiada passar.
Não precisa ler nas entrelinhas da coluna, está na cara de todos: o Estado vai entregar de mão beijado uma área nobre de Belém, na beira do rio, para que seja construído um hotel da rede Vila Galé. Já pensou um hotel pegando a brisa do rio? Obra prevista no esquema de urbanização da COP30?
Alguns esclarecimentos, obviamente não contidos na coluna de Bonna, se fazem necessários: primeiro, porque a área portuária foi repassada pelo governo federal ao Estado com um objetivo claro, que era a construção do tal Porto Futuro. Então, a pergunta que o governador Helder Barbalho precisa responder: pode, agora, o próprio Helder transferir a área diretamente para a iniciativa privada?
Pelo visto, como o negócio está sendo feito de maneira sorrateira, escondida, sem transparência, uma pergunta não quer calar: qual o valor que o Grupo Vila Galé vai pagar para o Estado e de que forma isso será feito?
Em junho do ano passado – completa um ano – o governador assinou uma ordem de serviço para o começo das obras e aproveitamento da área portuária de Belém em um novo espaço de lazer para a população. O projeto está orçado em R$ 300 milhões e está previsto para ser concluído em 25 meses. Ou seja, antes de novembro de 2025, data da COP 30.
Cadê a transparência?
Um detalhe: a área do porto de Belém é tombada pelos órgãos do patrimônio público, federal, estadual e municipal desde o ano 2.000. Então, vale indagar para quem se habilita a responder: esses órgãos já foram consultados e liberaram a construção do tal empreendimento hoteleiro? E mais: qual o projeto desse hotel, o que será construído e o que será preservado?
Por fim, não custa lembrar que transparência e prestação de contas junto à população são um dever e obrigação do Estado e do governador Helder Barbalho.
Ou será que isso também já não vale mais nada neste Estado onde até os fiscais da lei, no atual governo, entram mudos e saem calados, renunciando ao papel que lhes cabe como defensores da sociedade paraense?
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