Os romeiros que participavam da tradicional romaria fluvial do Círio de Nazaré, ontem em Belém, foram surpreendidos por uma incomum coloração esverdeada nas águas da Baía do Guajará. O fenômeno, amplamente registrado em fotos e vídeos que viralizaram nas redes sociais, chamou a atenção não apenas pela beleza atípica, mas também pela preocupação ambiental que ele representa.
A mudança na coloração das águas foi associada à estiagem severa que afeta a bacia amazônica em 2024, permitindo que as águas do Oceano Atlântico invadissem o Rio Pará, alterando o aspecto barrento típico da região. A redução do fluxo dos rios amazônicos, que normalmente empurram as águas oceânicas de volta, tem causado uma intensificação desse fenômeno, tingindo as águas de verde.
Especialistas explicam que a invasão das águas oceânicas já foi registrada em outros anos, mas em 2024, a intensidade e a visibilidade deste processo tornaram-se mais pronunciadas, evidenciando os impactos da seca prolongada. A presença de algas e o aumento da salinidade, causados pela invasão de águas do Atlântico, contribuem para essa transformação.
Reações nas redes sociais
As redes sociais rapidamente se encheram de comentários e imagens do fenômeno. Alguns usuários, como @rosanecarrera, destacaram que as águas de outras áreas próximas, como Mosqueiro e Outeiro, também estão salgadas: “Eu não sei, mas que as águas dos rios de Mosqueiro e Outeiro estão salgadas, isso estão 🫨”. Outros, como @fabiojconceicao1905, afirmaram que, devido à proximidade de Belém com o Oceano Atlântico, o fenômeno era previsível diante da seca na bacia amazônica: “Belém está próxima do oceano Atlântico, óbvio que com o Rio Amazonas secando, a influência do Oceano será maior!”.
A comoção entre os fiéis também foi evidente. Muitos demonstraram tristeza pela situação, como o usuário @tonymello_, que lamentou: “Muito triste, porque sabemos que nosso rio não tem essa cor, o baixo nível é a seca tá castigando a Amazônia. Que Nossa Senhora dê força para a Amazônia continuar de pé”. Outro usuário, @juansilvc85, reafirmou a veracidade das imagens: “Não é montagem não, eu vi em um vídeo de fato, a cor das águas está esverdeada”.
Já @amaurigouveiajr associou o fenômeno à baixa de chuvas e à presença de algas: “Pouca chuva. A água está mais salobra e com mais algas verdes”, complementando uma explicação técnica para o tom esverdeado observado. De fato, moradores de regiões afetadas, como a ilha do Marajó, relataram que a salinização aumentada nesta época do ano pode matar peixes e deixar a água imprópria para consumo, como lembrou @geovana.leite: “Eu estive lá e a água estava limpa, na tonalidade de verde mesmo, não tem filtro”.
Impactos ambientais e religiosos
Além de provocar debates nas redes sociais, o fenômeno trouxe preocupações maiores sobre os impactos das mudanças climáticas na região amazônica. A estiagem, agravada por fatores globais, tem alterado significativamente o ecossistema local, afetando tanto a fauna quanto a vida dos ribeirinhos. Comunidades na Ilha do Marajó, por exemplo, já estão sentindo os efeitos do aumento da salinidade, com relatos de mortes de peixes e dificuldades no abastecimento de água potável.
Para muitos, o Círio de Nazaré, que tradicionalmente celebra a fé e a devoção dos paraenses, tornou-se também um momento de reflexão sobre as mudanças ambientais em curso. Este ano, além das manifestações religiosas, a romaria fluvial foi marcada por um alerta da natureza, ressaltando a urgência de ações para mitigar os impactos da crise climática.