Há todo tipo de promessa no Círio de Nazaré, mas alcançar uma graça não é para todos. Os religiosos sustentam que é preciso ter muita fé para remover montanhas. Qualquer pecador sabe disso. Inclusive os “santos” da política.
Sob o olhar atento dos observadores políticos, a presença do presidente Lula ao lado do governador Helder Barbalho durante o evento reacendeu as especulações sobre uma eventual aliança estratégica para as eleições de 2026. A proximidade entre ambos, marcada por fotos, conversas ao pé do ouvido, cara a cara com a Virgem de Nazaré e gestos de camaradagem, foi interpretada como um sinal de que o projeto de uma chapa Lula-Helder pode estar ganhando força nos bastidores, especialmente após um período em que essa hipótese parecia ter esfriado.
Mesmo quando Lula nomeou para o Ministério das Cidades o irmão do governador, Jader Barbalho Filho, o “Jaderzinho”, cuja atuação naquela pasta de governo é fraca e sem brilho, apesar da intensa propaganda midiática a peso de ouro nos veículos da velha imprensa.
A movimentação coloca Helder novamente sob os holofotes, reforçando um sonho que ele parece cultivar com afinco: conquistar maior prestígio no cenário político nacional. No entanto, a trajetória não será simples. O nome Barbalho carrega o peso de um histórico polêmico, com acusações de corrupção e de uso indevido de recursos públicos que sustentaram a dinastia familiar.
Para o governador, estar ao lado de Lula, mesmo que o governo federal enfrente dificuldades e desaprovação popular, representa uma âncora em um cenário político em que alianças são tudo. Mas, a realização desse sonho depende de algo além de proximidade; é necessário um alinhamento complexo com outros líderes partidários que também aspiram ocupar a vaga de vice numa eventual chapa petista. É cobra engolindo cobra e cuspindo fogo.
Helder Barbalho enfrenta desafios tanto no campo estadual quanto nacional. No Pará, a questão que se coloca é: quem assumirá seu lugar caso ele se projete nacionalmente? As conversas indicam que Jaderzinho seria uma das apostas para substituir o governador como candidato ao Senado.
No entanto, há uma nuvem de incertezas sobre a continuidade da atuação política dos patriarcas Jader Barbalho, senador que mal aparece em Brasília, e Elcione Barbalho, deputada federal, ambos octogenários e considerados figuras influentes do MDB. Discussões internas sugerem uma possível retirada de ambos da política ativa, o que abre um vácuo de liderança a ser disputado.
Bases frágeis
Nesse cenário, outros nomes surgem como potenciais ocupantes desses espaços: Iran Lima, que se destacou nas eleições municipais de 2024 ao consolidar a influência de sua família em cidades estratégicas, e Chicão Melo, presidente da Assembleia Legislativa do Pará, que também observa atentamente a dinâmica eleitoral, possivelmente de olho em uma vaga na Câmara Federal.
O resultado das eleições em Belém e Santarém será fundamental para definir a solidez das bases políticas do MDB e, consequentemente, os rumos da família Barbalho. Uma vitória apertada colocaria em risco a ambição nacional do governador. Qual a carta pesada ele jogaria na mesa de Lula?
Ainda que Helder mostre força e articulação pessoal, a fragilidade de algumas bases eleitorais do partido, exemplificada pelas derrotas de aliados de Antonio Doido e Renilce Nicodemos, expõe as dificuldades de sustentação de um projeto que almeja o alcance nacional. O governador sabe que, para viabilizar uma candidatura de vice-presidente, precisará fortalecer sua base estadual e garantir vitórias locais em 2026.
O heliotropismo de Helder
Helder, embora jovem, é um político populista com ideias velhas, centradas no coronelismo e no curral eleitoral. Além disso, não consegue viver longe dos refletores, sempre em busca da luz que o mantenha em evidência, mesmo que isso signifique alianças circunstanciais e espúrias.
O prestígio junto a Lula não é apenas uma questão de proximidade política, mas uma tábua de salvação num momento em que as forças no tabuleiro do poder estão em constante mudança. Resta saber se essa estratégia será suficiente para transformar o sonho de Helder em realidade, ou se ele permanecerá apenas um jogador à margem, observando enquanto outros lideram a partida e comandam as ações dentro de campo.
Seria bom, por fim, ter em mente que o excesso de luz cega tanto quanto a mais abjeta escuridão.