A dona de garimpo Letícia Estrela acusa o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente -, de destruir e incendiar, em maio passado, maquinário dela em uma área localizada no km 51 da rodovia Transgarimpeira, vicinal do Conrado, próximo do distrito Moraes de Almeida, em Itaituba, no sudoeste do Pará.
Ela afirma, em entrevista exclusiva ao Ver-o-Fato, que “não é bandida” e que, apesar dos poucos recursos de que dispõe, “sempre procurou atuar dentro da legalidade”, inclusive com Permissão de Lavra Garimpeira (PLG), um documento que a habilita a exercer a atividade.
Dias atrás, durante a permanência do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na região, onde instalou um gabinete de operações, vários garimpos e áreas de exploração ilegal de madeira e desmatamento foram alvos da Polícia Federal e de outros agentes ambientais, que realizaram apreensões, destruição e incêndio de máquinas e veículos usados no transporte de bens florestais.
Em vídeos enviados ao Ver-o-Fato, Letícia protesta contra a destruição da máquina que usava no garimpo, além de conversa que teve com o ministro, garantindo atuar na legalidade e dizendo que sua área de exploração não poderia estar entre as que sofreram a violenta repressão do Ministério do Meio Ambiente.
Sales prometeu estudar o caso de Letícia, mas até agora não deu qualquer resposta sobre as reivindicações dela. O Ver-o-Fato aguarda posição do Ministério sobre o caso. Veja, abaixo, a entrevista e os vídeos da operação do Ibama.
Onde fica seu garimpo e qual a situação legal dele?
Fica na Transgarimpeira, km 51, vicinal Conrado, próximo a Moraes de Almeida.
O seu garimpo tem autorização pra funcionar? Se tem, há quanto tempo ele funciona?
Tem. Ele funciona deste 2013, porém comprei a propriedade há um ano. Estava dentro da Licença de Operação que me foi concedida e do Permissão de Lavra Garimpeira (PLG). Estou lá com a parceria com o projeto Resgatando Vidas, para reflorestar e abrir um centro de recuperação dos garimpeiros que têm problemas com o vício.
Por que o Ministério do Meio Ambiente (Ibama) apreendeu e destruiu equipamentos de sua empresa, se ela tem autorização para funcionar?
Não sei. Acredito que erro de operação ou simplesmente por forma arbitrária. Por achar que pequeno trabalha sempre irregular.
O Ministério do Meio Ambiente alega que as operações estão centralizadas sobre quem pratica crimes ambientais ou atua ilegalmente. O que a senhora diz sobre isso?
Eu também pensava que fosse dessa forma, porém na realidade o meu casa e oposto ao que se diz.
Então, a senhora está sendo perseguida e punida pelo Ibama, acusada de crimes ambientais que não praticou?
Não sei se estou sendo acusada e nem perseguida pelo governo. mas eu posso afirmar que a operação feita dentro da minha propriedade foi de forma equivocada. ilegal, desastrosa, nitidamente sem nenhum preparo.
Diga o que eles (Ibama e demais agentes federais) fizeram no garimpo. Qual o valor do prejuízo?
Foram três aeronaves no alojamento, enquanto 2 outras desceram no local de trabalho. As três chegaram, abordaram os garimpeiros que estavam almoçando. Eu pedi que eles fossem todos embora e aguardassem uma possível visita do ministro, pois pela manhã tinha ido ao aeroporto. E falado com o ministro, ele disse que ia na minha propriedade e que ia ver meus documentos e projetos. Porém, essas 3 aeronaves com seus agentes estiveram no alojamento, vendo os documentos. E viram que eram válidos e mesmo assim, depois, queimaram meu maquinário. Meu prejuízo está avaliado em quase 500 mil reais. Eu fiquei na cidade porque o ministro pegou meu telefone. E pediu pra deixar minha documentação no Exército, porém o capitão não estava no batalhão . E o tenente não quis ficar com minha documentação, porque eram os originais. Então, me disse que era para aguardar o helicóptero voltar à tarde. Porém, enquanto eu estava no Exército, eles estavam na minha propriedade, queimando tudo.
A senhora se queixou ao ministro Ricardo Salles, mas ele não pareceu estar convencido de que a senhora tinha razão. O que a senhora está fazendo para que seus prejuízos sejam ressarcidos? Entrou ou vai entrar na Justiça?
Ainda não entrei na justiça . Tinha sido marcado uma uma reunião na quarta feira dia 19/05/2021 com o ministro, porém, ele desmarcou , e até hoje não remarcou . Não estou tendo nenhum respaldo pela parte do governo , porém eu queria ser ouvida mas tudo indica que não serei ouvida, que terei que entrar com ações jurídicas.
Os vídeos que a senhora mandou para o Ver-o-Fato são dos ataques dos agentes do governo, pondo fogo em tudo na região? Outros garimpos da região também sofreram isso ou foi somente o seu garimpo?
Sim, são. Outros garimpos da região sofrem. Ataques também. Porém, acredito que eu seja a única que tive o patrimônio destruindo dentro da Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) válida.
Para encerrar, seu nome, atividade empresarial número de empregados que ficaram sem faturamento com a paralisação do garimpo?
Letícia Estrela, minha atividade é extração de ouro, com 15 funcionários diretos mas uns 20 indiretamente. Sem falar que estou sem condições de pagar a faculdade do meu irmão e não estou conseguindo manter ajuda que sempre arco no tratamento da minha mãe.
A senhora gostaria de fazer um apelo às autoridades?
Sim gostaria que o ministro Ricardo Salles e o presidente Jair Bolsonaro olhassem pra mim, me ouvissem, porque tem muitas pessoas que dependem de mim. Que estou sem condições de trabalhar por uma operação desastrosa. Que não sei o que dizer a meus filhos. Acreditava que não ia ver o nosso patrimônio sendo destruído. Que eles chegam a brincar em receber a visita do Ibama para mostrá-los. Que meus filhos, de 10 e 6 anos estão em estado em estado de choque com a ação do governo na nossa propriedade. E quero dizer, por fim, que sou garimpeira e não sou bandida. Que mesmo pequena com poucos recursos fui atrás da legalidade, e mesmo assim não tive amparo dos órgãos competentes.
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