O exercício do poder – sobretudo o sustentado pelos contribuintes – quando exercido com seriedade é a melhor oportunidade conquistada de promoção do bem coletivo. Há, porém, quem confunda a coisa pública com a privada. O resultado, como estamos cansados de saber, pode ter consequências ruins e implicações legais. Este parece ser o caso de Suely Lessa, chefa de gabinete da primeira dama do Estado, Daniella Barbalho.
Nomeada para o cargo por ser pessoa de extrema confiança e da cota de indicações de Daniella no governo do marido, Helder, que tem prometido fazer uma gestão austera e diferente, Suely Lessa, ao que tudo indica, enveredou por um caminho oposto.
O Ver-o-Fato recebeu denúncias, por meio de informações de fontes estacionadas no Palácio do Governo, de que a chefa Suely, com atuação no programa ParáPaz – algo semelhante ao antigo Pró-Paz, de polêmica existência no governo de Simão Jatene – estaria envolvida em diversas irregularidades.
De acordo com uma das fontes, ela fazia indicações e nomeações de dezenas de pessoas junto à Casa Civil , incluindo parentes e amigos. Chegava até a sugerir demissões e indicava quem deveria ocupar o lugar, remetendo currículos e escolhendo os cargos. Também mandava para a Cohab inúmeras solicitações de cheques-moradia de comunitários que deveriam ser contemplados, mas antes submetidos ao crivo da própria Suely. Além disso, há relato de utilização do helicóptero do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) para viagens de veraneio por Salinas, Marudá, Mosqueiro, Algodoal e outros, levando acompanhantes.
A narrativa é de que Suely dava os cheques-moradia para os parentes descontarem. Os comunitários, segundo ainda a informação, tinham seus nomes usados nos cheques, mas perdiam a metade do valor. Nesse caso, haveria uma espécie de “rachadinha”. Servidores prejudicados começaram a reclamar e alguns teriam manifestado a vontade de denunciar o caso ao Ministério Público, mas foram contidos. Afinal, para casa com laudo de risco e sob ameaça de desabamento, o valor do cheque-moradia alcança mais de R$ 20 mil. Perder a metade é um baque e tanto para quem precisa.
Outra fonte adianta que muitos fatos ainda virão à tona sobre a utilização do cheque-moradia e seu desvirtuamento pela maneira como era conduzido por Suely Lessa. O detalhe, assegura a fonte, é que isso seria feito sem o conhecimento de Daniela Barbalho. O fato é que Suely, desde novembro, foi afastada do gabinete da primeira dama.
Pelos corredores e salas do Palácio do Governo, os comentários são de que o governador Helder Barbalho teria ficado furioso ao tomar conhecimento do que ocorre no ParáPaz. Não se sabe se Suely volta ao cargo, será transferida para outro órgão do governo ou se será exonerada.
Nomeações e demissões
Pelas informações que chegaram ao Ver-o-Fato, Suely parecia exercer um amplo controle de tudo que girava no gabinete, imiscuindo-se até em assuntos da competência da primeira dama. Desde que assumiu o cargo, nos últimos dez meses ela teria enviado ao secretário Parsifal Pontes, chefe da Casa Civil, mais de 100 pedidos de nomeações de parentes e apaniguados. .
Ela também é acusada de humilhar pessoas que procuravam o gabinete de Daniella Barbalho para pedir emprego por terem trabalhado na campanha do então candidato ao governo, Hélder Barbalho. Mais uma pitada de insatisfação nesse caldeirão que envolve a poderosa chefa de gabinete.
Cópias de alguns ofícios com pedidos de emprego, assinadas e encaminhadas por Suely ao secretário Parsifal Pontes, foram entregues ao Ver-o-Fato pela fonte. Em uma delas é possível comprovar que ela pede a exoneração de pessoas e indica quem deve ser nomeado.
Em ofício encaminhado a Parsifal Pontes, em 24 de abril deste ano, por exemplo, ela solicita “adoção de medidas necessárias para a nomeação de José Antônio da Silva para ocupar o cargo de assessor de gabinete, com lotação na logística, em substituição ao senhor Wagner Rodrigues Gonçalves, que não aceitou o cargo”.

Já no dia 29 de abril, cinco dias depois do primeiro pedido, Suely pede a nomeação de Paulo Sérgio de Sousa para o cargo de assistente operacional 1 da logística e envia o currículo do indicado.
Em outro ofício, encaminhado dia 10 de junho, desta vez ela praticamente ordena a Parsifal a “adoção de medidas necessárias para a exoneração da senhora Danúbia Miranda Cordovil e em substituição nomear o senhor Waldecyr Diniz de Castro, gerente DAS – 3, com lotação na Secretaria de Estado de Educação”, encaminhando junto o currículo do indicado. Danúbia era, ou ainda é, a chefe do Setor de Compras da Seduc.
Ela também teria, segundo as denúncias, encaminhado ofícios às empresas terceirizadas da Seduc, pedindo emprego para familiares e amigos, usando o nome da primeira dama. Diz outra fonte que Suely foi uma das principais articuladoras da campanha de Helder Barbalho em Ananindeua e é ligada a uma pastora evangélica de prenome Rai.


O outro lado emudeceu
Desde quinta-feira passada, 19, quando tomou conhecimento das denúncias envolvendo as atividades de Suely Lessa no gabinete de Daniella Barbalho, o Ver-o–Fato, sempre voltado à sua missão indeclinável de fazer bom jornalismo, apurando e ouvindo todos os lados envolvidos em denúncias que chegam à nossa redação, tem procurado, sem sucesso, saber o que dizem os personagens citados nas informações das fontes.
A única resposta até agora, nesses quatro dias de busca, por sinal curta e lacônica, veio da assessoria de imprensa de Daniella Barbalho. A nota é a seguinte: ” A Casa Civil informa que a servidora citada está de licença e que vai apurar as denúncias. A Casa Civil afirma ainda que não compactua com nenhum tipo de conduta ilegal por parte de qualquer servidor do Estado do Pará”.
Na página de Suely Lessa no Facebook, após busca exaustiva e infrutífera de obter alguma declaração dela por meio telefônico, o editor do Ver–Fato enviou a ela a seguinte mensagem, ontem, 22: “boa tarde, Suely Lessa. Sou o jornalista Carlos Mendes, do portal Ver-o-Fato, e gostaria de ouvir sua versão sobre questões que envolvem seu nome e seu cargo de chefe de gabinete da primeira dama Daniela Barbalho. Acho importante e necessária sua manifestação até para que você possa exercer sua defesa em fatos que chegaram ao meu conhecimento. Você quer se manifestar? Já falei com a assessoria da Daniela e também aguardo manifestação prometida antes da publicação. Grato por sua atenção”.
A resposta de Suely, até o momento, tem sido um ensurdecedor e amazônico silêncio.
Também tentamos ouvir, já hoje pela manhã, 23, o secretário de Segurança Pública, Uálame Fialho Machado, sobre o uso do helicóptero do Graesp, possíveis gastos de combustíveis, diárias, etc. Não houve resposta às perguntas enviadas ao e-mail da Ascom da Segup.
Scaff se demitiu
Outra tentativa foi a de ouvir Parsifal Pontes, mas a informação de um palaciano foi de que ele não iria falar. Da mesma forma buscamos contato com a Cohab, na expectativa de colher alguma declaração do presidente do órgão, José Scaff Filho. Nossa surpresa foi saber, ao falar com uma assessora do gabinete, que Scaff havia “pedido demissão”.
Não se sabe qual o motivo da demissão e nem se ela tem a ver com as supostas irregularidades no cheque moradia protagonizadas por Suely Lessa. Ninguém, portanto, com poder de abrir a boca ou ao menos enviar nota, habilitou-se a responder aos questionamentos do Ver-o-Fato.
O substituto de Scaff é Felipe Michael Vasques, ligado a Parsifal Pontes. Ou seja, Vasques, que ainda aguarda oficialmente a nomeação pelo Diário Oficial, será o novo chefe da Cohab e responsável, daqui por diante, pela liberação do famoso cheque-moradia.
Discussion about this post