” A Hydro se julga dona de tudo aqui em Barcarena. E nós precisamos da ajuda do Ver-o-Fato para denunciar o que está acontecendo. Nós somos os pequenos, nenhuma autoridade vem aqui nos apoiar, só apoiam a Hydro”. Esse misto de desabafo e pedido de socorro é de Carlos Góes, um dos líderes da comunidade do Rio Tauá, em Barcarena.
Segundo ele, a empresa norueguesa, magnata do alumínio, quer expulsar famílias tradicionais das terras e não mede esforços para alcançar seu objetivo. O caso está judicializado, diz Góes, mas a Hydro quer se apossar das terras e chama de “ladrão” e “criminoso” quem vive na área. Foi na década de 80 que os moradores começaram a ser retirados do local, pela antiga CDI.
“Essa área aqui não faz parte do acervo da Hydro”, reafirma Góes em entrevista exclusiva gravada em vídeo pelo Ver-o-Fato por meio do repórter The Otaciano. Diz o líder comunitário “já ter sido provado que cerca de 2 mil hectares das terras estariam fora das áreas” reivindicadas pela empresa estrangeira. “Nós estamos ocupando o que restou, 1.900 hectares”, resume.
A Hydro quer expandir suas áreas de rejeitos minerais, como a bacia DRS-2, que Góes afirma ter impactado negativamente as nascentes dos rios da região, tanto o Tauá, como o Murucupi. “Aguardados as comissões de Meio Ambiente e Direitos Humanos, mas ninguém aparece por aqui”, cobra.
Com documentos em poder da comunidade, sustenta o denunciante, a Hydro ainda deve 536 hectares para as famílias que não se adequarem à área industrial voltarem à área de origem. ” A nossa área de origem é a agricultura, que aprendemos com nossos pais, avós e tios”.
Como vivem as famílias tradicionais da Comunidade do Tauá? Góes responde: “elas sobrevivem da agricultura; algumas têm Bolsa Família. Os que vivem da agricultura fazem a farinha, plantação de arroz, banana, macaxeira, hortaliças, polpa de frutas”.
Quando alguém adoece na comunidade, Carlos Góes usa o carro velho que possui para levar os doentes até a UPA, muito distante da área. O posto de saúde mais próximo fica em Vila do Conde ou em Castanhalzinho.
O veículo de Góes serve de ambulância. Os maiores problemas de saúde acontecem com os agricultores. “Quando eles estão na roça, a coluna trava e eu tenho que correr e levar pra UPA”, relata. Não tem nem como ligar para pedir socorro, porque o celular não pega.
As famílias recebem ajuda dos governos municipal e estadual para cuidar da saúde? Resposta: “não, não existe equipe de agente de saúde, aquela que deveria ir de casa em casa. Não temos esse benefício, nem do governo municipal, nem do estadual”.
Sobre o pagamento de indenização aos expulsos das terras, Góes salienta que essa luta já dura 38 anos, desde quando a Companhia do Distrito Industrial de Barcarena (CDI) retirou as famílias para assentar empresas, mas não pagou nada.
Pelo que se vê, a luta das comunidades pelo direito de viver, ficar e explorar a agricultura nas terras da Comunidade do Tauá, é a luta de Davi contra Golias.
Carlos Góes, porém, na gravação, lembra do procurador da República Felício Pontes Junior, hoje atuando em Brasília, na Procuradoria Geral da República (PGR). “O dr. Felício Pontes nunca abandonou a nossa luta, mas infelizmente teve de ir embora pra Brasília. Ele me estimulou a lutar pelos meus direitos”.
Veja o vídeo com a íntegra da entrevista:
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