Cerca de duas semanas após o início da ocupação do prédio da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), em Belém, lideranças indígenas seguem resistindo e reforçando suas demandas por direitos básicos e políticas públicas efetivas. Entre as vozes que ecoam da ocupação, destaca-se o contundente discurso de um líder indígena do movimento, que denunciou práticas de exclusão e divisões políticas promovidas pelo governo estadual.
“O que queremos é simples: nossas escolas, nossos professores, e as políticas públicas que são um direito de cada povo que está aqui. Não queremos participar de um sistema de barganha que troca pedaços de bolo por silêncio ou concessões que violam nossos territórios,” afirmou o líder, identificando-se como Surara.
Surara criticou duramente o que chamou de “bolo infectado” pelo governo, uma metáfora para as práticas que, segundo ele, dividem etnias e interesses em troca de favores políticos. “É um bolo que já vem com as fatias definidas: você recebe um pedaço, mas em troca o governo exige o silêncio quando pede uma concessão florestal ou aprova projetos de manejo que impactam nossos territórios. Nós recusamos esse bolo porque ele carrega uma ideologia de divisão entre povos,” disse ele, apontando que a política atual privilegia aliados e exclui comunidades que não compactuam com o sistema.
O líder indígena reforçou o compromisso de resistência do movimento e se posicionou contra qualquer tentativa de repressão por parte do governo ou da justiça. Ele afirmou que o grupo não foi notificado oficialmente de um mandado judicial para desocupar o prédio e alertou para as possíveis repercussões de uma ação policial.
“Se a juíza determinar a identificação de lideranças e usar a força para nos tirar, isso vai manchar a imagem do Estado. Não vamos nos render, e, se for preciso, essa força será o passaporte para cancelar a COP,” declarou, referindo-se à Conferência das Partes (COP) sobre mudanças climáticas, que o Pará busca sediar em 2025. “Não adianta tentar vender uma imagem de uma Amazônia que não existe. Estamos aqui para expor a realidade, e essa realidade é de exclusão e resistência.”
Dimensão internacional
Surara também ressaltou que as ações do governo serão observadas pela comunidade internacional, especialmente em um momento em que o Estado busca projetar uma imagem de liderança ambiental global. “O que está acontecendo aqui não é um filme de Hollywood. Isso é a realidade. E os povos que estão ocupando a Seduc não vão aceitar fazer parte de um sistema arquitetado para calar nossas vozes.”
A ocupação da Seduc, segundo os manifestantes, reflete a insatisfação com políticas educacionais ineficientes e a falta de diálogo com comunidades indígenas e tradicionais. Enquanto o governo ainda não apresentou uma solução concreta, os ocupantes afirmam que a resistência continuará até que seus direitos sejam plenamente reconhecidos e respeitados.
AS DECLARAÇÕES DE SURARA: