Caso realmente se disponha a pegar o jatinho do governo do estado para se fazer presente em locais de chacinas e outros tipos de crimes violentos – como fez ontem, 15, indo à Altamira e interrompendo sua pré-campanha à reeleição, que corre o risco de ser carimbada com sangue e insegurança pública -, o governador Helder Barbalho terá muito trabalho.
A violência é assustadora em cidades como Belém, Marabá, Parauapebas e Altamira, dentre outras. Ninguém está protegido, nem mesmo dentro de casa.
As ações do crime organizado apontam para a existência de um governo paralelo, comandado por facções – que também se digladiam na supremacia por pontos de venda de drogas e domínio de áreas onde a presença do aparato policial do governo oficial é quase nula.
As grandes distâncias do Pará e suas dimensões continentais foram muito bem mapeadas pelas organizações que migraram do sul e sudeste para o Norte do País, estabelecendo suas bases em grandes cidades como Belém e Manaus. O comando central dessas organizações se faz de dentro das penitenciárias, de onde saem ordens para identificar e executar policiais militares – da ativa ou reserva -, policiais civis, guardas municipais e agentes penais vistos como inimigos no ambiente do sistema carcerário paraense.
Em vários bairros de Belém as áreas de domínio dos criminosos estão claramente demarcadas e o próprio setor de inteligência da segurança estadual sabe disso. Comerciantes e moradores já pagam mensalidades para ter a “segurança” que o estado oficial não é capaz de oferecer. “É proibido assaltar morador dentro da quebrada”, dizem inscrições em paredes de ruas e vielas da capital paraense.
É um aviso de intimidação e medo para quem sair da linha e atrair a atenção da polícia, que não refresca a bandidagem. O crime virou um negócio lucrativo e seus “empresários” não admitem prejuízos. Até pontos de jogo do bicho, outrora intocáveis, também se dobraram às ordens das facções. Quem não se enquadra sofrerá graves consequências. Em boca fechada e bolso aberto não entra formiga. Melhor é colaborar. É a regra “moral” vigente.
A execução com pelo menos 50 tiros, ontem,15, do sargento da reserva da Polícia Militar, Raimundo Nonato Menezes Pereira, de 55 anos, e de um sobrinho dele, Leandro de Jesus Menezes, de 17, no residencial Viver Melhor, em Marituba, foi mais um exemplo de que é muito perigoso fazer “concorrência” e montar um pequeno negócio em área dominada por criminosos ligados às facções que dão as cartas no Pará.
O sargento tinha uma pequena venda de açaí no local e morreu por ser ex-militar e também por infringir a ordem de quem “manda no pedaço”.
Eis o estado a que chegamos. O Pará está em guerra: de um lado, as forças de segurança, diariamente envolvidas em múltiplas tarefas de combate aos crimes comuns e também de repressão às facções criminosas. Elas fazem o que podem, com limitações de contingente, armamentos e baixos salários. Os policiais moram nas mesmas áreas dos bandidos que combatem. Ou seja, a segurança deles, oferecida pelo Estado, é zero.
Do outro lado, a máquina organizada dos fora da lei, que aposta no terror, na intranquilidade dos cidadãos e na insegurança pública para conquistar espaço cada vez maior na sociedade. E com um detalhe: o crime virou uma indústria, com dirigentes que, fora das cadeias, residem em ambientes de luxo e ostentação.
No meio dessa guerra social estão os cidadãos e cidadãs de bem, os que lutam para tirar com o suor do próprio rosto o sustento diário de suas famílias. Gente que precisa de paz na rua e no bairro onde mora para transitar livremente sem se submeter ao terror cotidiano de sair de casa sem saber se voltará com vida ao convívio familiar.
Quando isso terá fim, governador?